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SER DEMITIDO NÃO É A MELHOR SENSAÇÃO DO MUNDO… MAS FOI NO MEU MUNDO!
Faz 1 ano que eu fui demitida e, cada dia que passa eu tenho certeza que esse foi o melhor presente que eu ganhei em 2016.
Eu tenho consciência de que isso não é usual, normalmente as pessoas não gostam de ser demitidas. Mas eu gostei demais… e vim aqui te contar porquê!
E, para que você entenda porque da minha alegria, eu preciso te contar como eu cheguei até o trabalho que eu fui demitida.
COMO SURGIU A OPORTUNIDADE
Tudo começou no meu trabalho anterior, em 2013… Eu queria mudar de vida, estava cansada da rotina e achava já ter atingido os desafios que me haviam sido propostos.
Também queria realizar alguns sonhos na minha vida, os quais não dava para fazer trabalhando.
Então eu me organizei, junto do meu marido, e em 2014 fizemos uma verdadeira revolução na nossa vida – pessoal e profissional.
Nós saímos dos nosso empregos em busca de realizar 4 sonhos:
- Morar fora do país;
- Participar da Copa do Mundo do Brasil;
- Ter um cachorro;
- Mudar para uma cidade longe da nossa cidade Natal.
Todos eles foram realizados! Moramos 3 meses na África do Sul, assistimos 3 jogos da Copa do Mundo, veio a paçoca e nos mudamos para Florianópolis.
Floripa não era o plano inicial. O plano A, na verdade, era Tailândia (uma cidade no interior do Pará). Eu estava louca para ir trabalhar em uma empresa de óleo de palma lá, mas não deu certo…
De Tailândia pra Floripa eu diria que sai ganhando… E a oportunidade de vir para cá apareceu da minha rede de contatos.
Foi tudo bastante rápido… O contato começou em uma segunda-feira, na quinta eu fiz a entrevista e na semana seguinte já estava trabalhando – estávamos em outubro de 2014.
Eu queria muito, mas muito mesmo morar longe da minha cidade Natal (esse post explica mais o que isso representa para mim).
Essa oportunidade de emprego apareceu pra mim como uma maneira de fechar um ano perfeito, realizando sonhos não apenas comuns de um ano, mas sim de uma vida!
Aquele tipo de ano que, quando termina, você nem acredita que mereceu todas aquelas graças!
Foi assim que eu cheguei em Floripa, com uma gratidão enorme de ter conquistado tudo aquilo.
OS PRIMEIROS MESES
Não foram nada fáceis… Nossa cabeça é um negócio louco né?!?
Porque estar fazendo aquilo era algo que eu realmente queria! Mas era difícil… Eram muitas adaptações…
- Uma cidade nova, onde eu não conhecia ninguém e não sabia andar sem waze;
- Uma casa nova, 3 vezes menor do que a que eu morava em Americana;
- Um emprego novo, com costumes totalmente diferentes do que os que eu estava acostumada.
Mas o que mais doeu em tudo isso foi a demora para que meu marido se recolocasse no mercado. Foram 6 intensos meses de dúvidas, questionando se a vida em Floripa daria certo ou não.
Eu vim para Floripa ganhando 20% a menos do que eu ganhava em Piracicaba. As contas do mês não fechavam…
Os finais de semana eram um mix de angústia entre ficar em casa, sentido-se sozinho e desamparado (ainda mais para nós que estávamos acostumados a ter a agenda do final de semana cheia) e sair, comer em um restaurante diferente e nos torturar por aqueles R$ 50 que iriam fazer falta no orçamento do mês.
Mas felizmente as coisas caminharam bem e em março de 2015 meu marido começou a trabalhar! Em maio ele trocou de emprego e hoje ele gosta muito de onde ele trabalha!
Completamente diferente de mim…
A ZONA DE CONFORTO PROFISSIONAL
O contexto da vinda para Floripa era complexo. Um mix de insegurança de estar tomando a decisão correta, com uma felicidade de viver em uma cidade perfeita.
Nos primeiros 3 meses do meu novo trabalho eu soube que não seria profissionalmente realizada ali.
Porque eu sabia disso? Porque os desafios eram pequenos para mim.
É horrível a sensação de se sentir subutilizada. Eu sentia que, de toda a minha capacidade, era explorado cerca de 30-40%.
A cada passo que eu tentava dar para aumentar esse percentual, eu sentia resistência e insatisfação.
Eu era cercada de pessoas fantásticas e horríveis… Era tipo um campo minado, precisava primeiro conhecer bem a pessoa com quem eu estava conversando para depois descobrir o quanto eu podia ser eu mesma com essa pessoa.
Eu acompanhei histórias lá dentro. Vi o que acontecia com outras pessoas quando elas tentavam ser elas mesmas.
Com menos de 3 meses de trabalho eu entendi que os valores da empresa que eu estava eram completamente diferentes dos meus. E tomei uma decisão: eu seria eu mesma, custe o que isso custasse.
Eu fiz isso porque eu vi que, a parcela das pessoas fantásticas (que eram a maioria, diga-se de passagem), eram demais de fantásticas! Essas pessoas precisavam me conhecer por completo – e eu queria esse tipo de gente perto de mim.
E eu não queria colocar uma máscara quando tinha que lidar com as pessoas horríveis – porque eu não sou do tipo que sei lidar com dupla personalidade.
Eu entendo que, em todos os empregos haverão pessoas fantásticas e horríveis… São coisas que nós temos que aprender a lidar na vida.
No fundo eu sabia que a decisão que eu havia tomado de ser eu mesma, ainda no período de experiência, teria consequências.
Todas as vezes que me perguntavam como estava meu trabalho eu respondia como era bom morar em Floripa. Era difícil assumir trabalhar num lugar com valores tão diferentes dos meus… Ainda mais eu, que vim de um emprego que eu tanto amava em Piracicaba.
Quantas conversas eu e meu marido tivemos e eu sempre disse a ele que não tinha a menor segurança onde eu estava.
Eu sabia que a qualquer momento poderia ser mandada embora e eu não estava disposta a obedecer as regras daquele jogo e passar por cima dos meus valores.
Pedir as contas eu não ia pedir mesmo… Não ganhava o quanto eu queria, mas tinha uma qualidade de vida fantástica…
Meu trabalho me dava a oportunidade de realizar o sonho de morar longe da minha cidade Natal, ainda mais em uma cidade deslumbrante como Floripa!
Depois que meu marido se recolocou, nossa vida ficou muito gostosa!
Eu conseguia cumprir minha carga horária… Não trabalhava além da conta – na verdade fazia isso de vez em quando, principalmente por compaixão as pessoas fantásticas que estavam lá dentro. Porque na prática eu tinha menos trabalho do que minha capacidade de execução.
E eu ainda fazia um mestrado – o que eu achava ser bom para mim.
A zona de conforto era ok… O nível de stress era baixo… Os sonhos haviam se realizado.
ENTÃO EU TREINEI MEU DISCURSO
Essa eu acho que foi minha maior sacada. Eu sabia que, cedo ou tarde, a demissão viria.
Não foi uma, não foram duas… Foram umas 15 vezes… Eu treinei mentalmente o discurso do dia que eu seria demitida.
Eu visualizei cada palavra que eu teria que dizer ao meu chefe quando ele me chamasse para me demitir.
Raiva, angústia, desprezo? Muito pelo contrário. Apenas gratidão.
Eu só tinha a agradecer! Se profissionalmente meu emprego ficou longe de ser dos sonhos, pessoalmente eu realizei muita coisa.
O estilo de vida que eu tive em um ano e meio de empresa me permitiu colocar muitos aspectos pessoais em equilíbrio.
No início de 2016 eu era uma profissional frustrada mas uma pessoa completamente equilibrada.
Existia uma paz interior que eu não conhecia dentro de mim. Vários campos da minha vida estavam sintonizados e o sentimento de realização era enorme.
Sim, eu acordava feliz! Não porque eu tinha que ir trabalhar… Mas porque a caminhada de 30 minutos de casa até o trabalho era feita ao som dos passarinhos… Tomando uma brisa suave da manhã.
Eu tinha tempo para mim! Eu era eu mesma! Quem me conheceu nessa época, me conheceu verdadeiramente. Eu não coloquei máscara, não fui ninguém diferente de eu mesma. E não me arrependo em nada da minha escolha.
No dia 11 de março de 2016, às 7h50 da manhã, eu estava na sala de reuniões sendo demitida.
Sabe o que eu pensei naquele momento?? Opa… chegou a hora de usar aquele discurso que eu tanto treinei!
E foi exatamente isso que eu fiz.
Eu não cabia em mim de alegria! Eu sai com um sorriso três vezes maior do que eu entrei. Chegava ao fim um ciclo repleto de realizações!
Eu não posso negar que eu senti pena das pessoas fantásticas que ali continuaram, tendo que vestir suas máscaras para sobreviver profissionalmente.
Eu não precisava mais daquilo. Eu estava livre. Eu poderia continuar sendo eu sem culpa, sem pressão profissional.
Eu tinha em mãos um presente enorme – e eu sabia que ele era bom, mas não sabia quão bom ele seria!
Sim, eu fiquei feliz demais ao ser demitida! Nunca imaginei que eu reagiria tão bem! E não sinto culpa de ter reagido assim.
Foi sincero, foi de dentro… Foi só o começo.
PS: Alguns dias depois de escrever esse post eu fiz uma Live no Facebook contando mais detalhes sobre o que eu senti no dia da demissão e como foi contar a notícia para meu círculo social! Estou deixando a live aqui pra vc!!