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DOAR LEITE MATERNO ERA UMA FORMA DE CUMPRIR COM MEUS PILAR SOCIAL, MAS COMEÇOU A ME FAZER MAIS MAL DO QUE BEM…
Doar leite materno era um desejo enorme meu enquanto estava grávida.
Mas depois que tudo aconteceu eu resolvi parar de ser doadora, depois de exercer esse papel por 2 meses.
E nesse post vim te contar porque eu tomei essa decisão. Mas, antes disso, eu preciso te contar porque eu quis ser doadora.
PORQUE EU RESOLVI DOAR LEITE MATERNO
A decisão foi muito instintiva, enquanto eu ainda estava grávida.
Eu não tinha a menor preocupação se ia conseguir amamentar ou se teria leite suficiente – isso para mim já era certeza!
Minha preocupação era se eu conseguiria doar leite e como faria para isso acontecer.
A doação de leite para mim significa preencher um pilar da minha vida que eu estou sempre em falta comigo mesma: fazer uma atividade social.
Passei a gravidez radiante por saber que eu poderia ajudar outras mães e outros bebês!
Cada pote de leite que eu doei, alimentou cerca de 10 recém nascidos!
A decisão estava tomada, faltava operacionalizar!
COMO EU DOEI LEITE
Quando a Naty nasceu, eu demorei um tempo para encaixar a rotina de doação no meu dia-a-dia.
Primeiro eu esperei meu corpo se adaptar a produção de leite.
Mas, se eu pudesse voltar atrás, eu teria começado a doar mais cedo, pois no começo realmente eu tinha muito, tirei muito e joguei muito leite fora.
O problema é que havia o processo burocrático por detrás da doação… E eu tava com uma preguiça gigantesca de passar por ele, procrastinei um monte…
Até que, com um mês de vida da minha filha, uma pessoa em um grupo que eu participo estava precisando de doação de leite.
Daí ela intermediou todo o processo burocrático com o banco de leite, e facilitou minha vida!
Ela fez o cadastro, levou os documentos, os exames e eu me entregou os potes para doação.
Eles ficaram umas duas semanas parados em casa até eu de fato começar, porque ainda tinha mais um obstáculo: o processo de tirar o leite em si.
Eu confesso que tentei ordenhar na mão. Mas era uma coisa muito ineficiente… Ficava meia hora ordenhando e não conseguia 30 ml.
Então eu resolvi alugar uma bombinha elétrica, algo que fiz com dois meses de vida da Naty.
Então quando a bombinha chegou, o processo foi bastante facilitado, e as ordenhas começaram!!
O INÍCIO RADIANTE
No começo eu estava muito, muito contente de estar doando leite!!
Combinei comigo mesma que tiraria 20 minutos de leite por dia – 10 em cada peito.
E assim… 20 minutos não era uma doação em quantidade grande. Tinha dia que saia 30 ml, tinha dia que saia 90.
Como tempo eu fui descobrindo que horário do dia era mais fácil para fazer a ordenha, ou seja, que saia mais leite.
Mas 20 minutos do meu tempo com as mãos livres para tirar leite era um tempo muito nobre. MUITO NOBRE.
Tem tantas coisas que eu quero fazer quando tenho 20 minutos livre… Colocar a doação no topo das minhas prioridades aconteceu porque eu realmente queria doar leite!
E fiz isso de coração muito aberto no começo!
O primeiro pote de leite que eu entreguei para a coleta da maternidade não estava totalmente cheio.
Mas os seguintes foram completos.
Eu tinha como meta doar 10 potes. Mas desisti quando entreguei o 4º.
PORQUE EU DESISTI DE DOAR LEITE
A dinâmica de tirar o leite em si eu consegui encaixar na rotina! Não que era fácil, mas era possível.
Tinha dia que eu tirava o leite às 8h da manhã. Tina dia que isso acontecia às 23h…
Mas lá estava eu firme e forte, tirando o leite todos os dias.
O que me incomodou, na verdade, foi a entrega do leite para a maternidade.
O combinado era o seguinte: a maternidade me ligaria e passaria toda semana recolher o leite ordenhado.
Lembrando que o leite pode ficar, no máximo, 15 dias congelado.
Na prática, o combinado caiu por água abaixo…
A maternidade não passa toda semana buscar o leite – fazia isso de 15 em 15 dias aproximadamente.
Então primeiro eu tentei me adaptar à quinzena deles, para não deixar o leite vencer.
Mas ainda assim, não tinha uma data fixa. Eles passavam em dias variados.
Daí quando eu ligava lá pedindo para ir buscar porque o pote estava cheio ou o leite ia vencer, eles não conseguiam encaixar minha casa na rota da coleta dos próximos 2-3 dias.
E daí, faço o que? Jogo fora todo aquele leite e junto o meu esforço de ter tirado todo o leite?
Não, de jeito nenhum… Eu ia até a maternidade levar o leite.
Esse foi o primeiro ponto que me desanimou…
Além de todo o esforço para tirar o leite, eu tinha que me dirigir até a maternidade, algo que consumia 1 hora do meu dia.
1 hora com o bebê no carro (muitas vezes chorando), tendo que procurar lugar para estacionar (quando não pagar pelo estacionamento), para entrar e entregar o leite – coisa de 2 minutos.
Isso sim foi um desgaste grande para mim. Fiquei muito chateada por ter que fazer todo esse processo – e o repeti 3 vezes, caso contrário jogaria fora o leite que tirei.
Além desse fator logística, eu confesso que fiquei chateada também com a falta de retorno por conta da maternidade…
Eles não tinham controle do leite que eu entreguei: aconteceu por exemplo de terem me ligado para coletar o leite no dia seguinte que eu havia deixado o pote na maternidade.
E ninguém nunca me disse se meu leite estava bom, se serviu, se foi útil. Não recebi nenhum agradecimento, nenhuma mensagem, email, nada…
Todo o esforço que eu fazia em casa não se transformava em nada…
Na prática, pode até ser que de fato alimentava os bebês e tudo mais. Só que, para mim, se tornou algo muito solitário e sem nenhum feedback.
Parei de me sentir bem como doadora.
Doar leite materno passou a ser um processo chato, onde eu tirava uma parte nobre do meu dia para ordenhar o leite, pagava o aluguel da bomba de leite (o que me gerava um custo, mas tudo bem, eu estava disposta a arcar com ele) e, pior de tudo, tinha que parar minha semana 1 vez a cada quinze dias para levar o leite na maternidade.
Acabou a graça. Acabou o propósito. Eu não estava mais colhendo os frutos do bem alheio que queria fazer.
Não sei que fim deu o leite que eu doei, se foi aproveitado ou não.
Fiquei chateada de nem conseguir cumprir a meta que eu tinha colocado para mim mesma.
Mas ganhei meus 20 minutos diários de volta!
E, com muita dor no coração, eu resolvi deixar de doar leite materno.
Não por falta de vontade, mas por falta de logística e atenção do banco de leite.
EU PRETENDO VOLTAR A SER DOADORA?
Ainda não sei… Não consegui me decidir…
Talvez quando eu tiver outro filho eu pense nisso novamente – porque no início, é bem fácil tirar leite, já que é abundante!
Agora eu já sei o caminho, já sei que não dói usar a bomba, já sei quão fácil é…
Mas, por enquanto, confesso que estou me dando o luxo de ser egoísta novamente e usando o meu tempo para mim, para o que é mais importante na minha lista de prioridade.
Meu intuito ao escrever esse post não é desencorajar mães a serem doadoras – muito pelo contrário, eu acho isso uma decisão muito nobre e incentivo muito quem faz isso!
Meu intuito é instigar os Bancos de Leite a ter um tratamento mais humano com seus doadores. Ou, no mínimo, mais organizados.
Talvez ter uma rota fixa de coleta, o que facilita a organização de quem está doando.
Mandar uma mensagem no whats app, um email que seja agradecendo toda vez que você doa.
Mostrar o quanto você já doou.
Eu sei que é fácil falar e não fazer nada para ajudar a concretizar. Torço para que, por ter sido dito, alguém possa tomar providências.
E repito – de coração partido: eu deixei de doar leite, pois não era algo que estava me fazendo bem, psicologicamente dizendo.
Quem sabe numa próxima oportunidade…