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AMERICANA É MINHA CIDADE NATAL E TEORICAMENTE, “VOLTAR PRA CASA” DEVERIA SER UMA SENSAÇÃO ACONCHEGANTE E GOSTOSA
Mas a prática tem sido um pouco diferente dessa teoria…
Só que, para entender melhor o porque dessa minha sensação, eu preciso resgatar um pouco do histórico e do contexto que me fazem chegar na situação atual.
A DECISÃO DE ME MUDAR DE AMERICANA
Por muitos anos da minha vida não passava pela minha cabeça me mudar da minha cidade natal.
Minha opinião mudou completamente quando eu entrei na faculdade – e tive contato com colegas que vieram do Mato Grosso, do Tocantins…
Eles tinham a mesma idade que eu e viviam completamente distantes de sua família.
E mais… Viviam bem!! A liberdade que eles tinham de escolher o que fazer nos seus dias, em quando voltar, em como conviver com a família deles me encantava…
Por volta dos meus 20 anos eu decidi que queria sim me mudar de Americana um dia.
Não importava para onde… Mas eu queria viver um tempo longe para ver se era assim tão bom quando eu imaginava.
Com 24 anos eu realizei esse meu desejo! Foi uma combinação de querer (muito!) com oportunidade.
Depois de passar três meses fora do país, eu consegui uma recolocação profissional em Floripa, para onde eu me mudei.
Costumo dizer que Floripa foi um grato presente na minha vida. Meus planos eram me mudar para o Pará e eu verdadeiramente estava disposta e preparada para essa mudança (que teria sido ainda mais radical!).
Mas o Pará não deu certo naquele momento (quem sabe um dia dá) e eu estou muito contente de viver em Floripa, como contei nesse post.
O PERÍODO DE ADAPTAÇÃO
Só que o começo não foi fácil, e eu dificilmente me esquecerei das dificuldades do primeiro ano que passei aqui.
Me acostumar com a cidade, com a qualidade de vida, com a casa nova não foi tão doloroso…
Mas a saudade foi forte, muito forte!
Era um sentimento dúbio… De um lado eu queria e fiz tudo que fiz para estar longe (fisicamente) das pessoas que ficaram em Americana.
Só que eu não imaginava que essa distância física também também seria uma distância emocional.
Amigos que eu conversava toda semana (por whats app) e me encontrava uma vez por mês deixaram de ter o mesmo interesse em conversar comigo.
Algumas pessoas (não foram muitas, mas faziam parte das mais importantes para mim) não me apoiaram na minha mudança… Até hoje me perguntam quando eu vou voltar…
Me isolaram por eu estar longe… Deixaram de falar comigo.
E isso doeu. Pra caramba.
O sentimento de solidão foi forte. Eu passava a semana inteira trabalhando… Estava acostumada com os finais de semana cheio de compromissos e interação social.
Perdi as contas de quantos sábados a noite eu fui pra minha cama chorar sozinha por não ter ninguém para fazer nada em Floripa… Por saber que todos aqueles com quem eu me encontrava de sábado a noite estavam juntos – e eu não…
Você não tem ideia da alegria que uma ligação de skype me trazia. Só que não era recíproco…
Parecia que eu estava invadindo o dia-a-dia daqueles que ficaram, pois eles paravam um tempo do dia deles para falar comigo. E uma das sensações que eu menos gosto é me sentir atrapalhando alguém.
Águas passadas… Nada como o tempo para ir colocando as coisas em seu lugar.
Demorou cerca de 1 ano para essa necessidade de afeto de quem estava distante passar.
Eu e meu marido criamos nossa rotina aqui, nos reestabelecemos como família, aprendemos a gostar da nossa vida mais pacata e sem tanta interação social.
Ao mesmo tempo que sentíamos saudades de sair de sábado a noite e almoçar com a família no domingo, começamos a ver o quanto era gostoso não ter que fazer isso toda semana.
Aproveitar o sábado de manhã na praia e curtir uma dobradinha de video-game + estudos a noite passou a ser bem legal!
Estar almoçada no domingo ao 12h30 e ter o resto do domingo só para mim passou a ser fantástico… Pra quem só chegava em casa às 16h e ainda nem tinha conseguido ter tempo pra si mesma.
Aos poucos o sentimento foi mudando e a rotina daqui passou a ficar mais interessante do que a rotina que tínhamos lá.
O “nosso” jeito começou a ser mais nosso, sem interferência de círculo social nenhum.
Alguns amigos começaram a surgir em Floripa. Uma ou outra vez saíamos com alguém e voltamos a nos sentir “pertencidos” aqui também!
A EXPECTATIVA DE RECEBER VISITAS
Os primeiros dois anos aqui foram um mix de voltar com regularidade para Americana e cobrar insistentemente visitas!
Queríamos que todos viessem nos visitar… Achávamos o máximo (e ainda gostamos muito!) de receber visitas em casa!
2 dias ao lado de uma pessoa na sua casa é muito mais intenso do que 2 anos de convivência nos churrascos de final de semana.
Celebramos e curtimos cada uma das visitas que recebemos… Preparamos a casa, as refeições, os passeios! É tipo um pacote completo, pois assim também aproveitamos a cidade!
Nos decepcionamos com pessoas importantes para nós que não nos colocaram como prioridade nos visitar – e até hoje não deram as caras…
E, em paralelo, voltávamos para eventos importantes. Casamentos, chás de bebê, aniversários…
Não faltavam motivos para voltar para lá… E a cada 3-4 meses estávamos de volta!
Era gostoso, não posso negar… Matava a saudade, nos enchia de energia!
Porém era sempre e necessariamente insuficiente!
Não importava se ficávamos 3 dias ou 3 semanas – as impressões eram sempre as mesmas:
- Já vai embora amanhã??
- Nossa, nem deu tempo de a gente aproveitar…
- Porque você veio para ficar tão pouco?
E isso foi começando a irritar… Aquelas duas horas de um almoço me energizavam tanto! Tanto quanto os 15 minutos que eu queria de conversa por skype de vez em quando…
Mas para quem estava do outro lado era pouco… 2h não era suficiente para contar todos os seus problemas, as suas angústias, o que mudou na vida desde a última vez que conversamos..
E eu comecei a ficar muito irritada com a síndrome do sufoco social.
O FATOR FINANCEIRO
E, para ajudar, veio o fator financeiro…
Você já sabe que eu não estou vivendo a fase mais abundante da minha vida…
Cada volta para Americana me custa, no mínimo, R$ 1.300. Já tentei de várias maneiras mas não consigo uma volta mais barata que essa.
Quando é mais tempo então, a cifra sobre para R$ 2 – 3 mil reais.
E daí começam as escolhas… E os questionamentos… Gastar tudo isso para ouvir que foi rápido?
Investir tudo isso para entrar em papos que eram interessantes para você há alguns anos e hoje já não são mais?
Pagar para ficar mais próximo para ouvir reclamações e todos os problemas da vida alheia?
E aquela parte de que eu também preciso ser ouvida? Que eu também quero colo? Que eu também tenho meus problemas e queria ter um apoio incondicional mesmo a distância? Fica onde??
Eu sei que grande parte da culpa desse comportamento é minha! Que sou eu que puxo papos cabeça e não gosto de futilidade.
Que sou eu que vou perguntar como está seu plano de vida, o que você pretende fazer nos próximos anos e como está indo seu trabalho.
Sou eu que me preocupo com o equilíbrio emocional daqueles que me circulam. São esses os papos que eu gosto – e não falar sobre futebol, compras, último capítulo da novela e fofocas da família.
Assim sou eu, e eu gosto de mim assim!
Mas confesso que isso me demanda uma energia danada… Porque as pessoas já me encontram sabendo que poderão desabafar comigo, traçar novas estratégias para suas vidas, me atualizar de um plano que me contaram há um ano.
A culpa é minha, eu sei! E tudo bem! Eu gosto que seja assim…
Só que na prática não sobra espaço para eu falar. Porque (o insuficiente tempo) que fico lá é ocupado pela vida da outra pessoa.
Nessa última vez que eu voltei para lá, eu passei 10 dias. NINGUÉM me perguntou como vai a minha vida profissional, nem pessoal.
Para algumas pessoas eu interrompi a conversa e falei de mim, mas não porque me perguntaram. Porque eu quis falar. Porque eu também preciso falar.
A SENSAÇÃO DE NÃO SER IMPORTANTE
O (triste) fim da história é esse…
Na preparação da viagem para Americana começa a angústia de todos os papos que vou ter que ter… A semana pré-viagem é intensamente negativa para mim.
Daí eu vou… E saio de lá com a sensação de não ter sido suficiente e não ser importante.
Porque os papos que eu gosto de ter, que me enchem de energia, são papos chatos para quem está lá…
Ninguém lá quer falar comigo sobre empreendedorismo, educação financeira, autoconhecimento, treinamentos.
Os papos que me atraem hoje não fazem parte dos papos de quem ficou – que continua com a vida muito parecida de quando eu fui embora… E eu mudei tanto!!
Então simplesmente não consigo mais me encaixar no modelo de convivência social que eu me encaixava antes…
Meus valores mudaram… meu interesse mudou… meus gostos mudaram.
Os papos “de sempre” se tornam cada vez mais tediantes pra mim…
E eu sou a única responsável por ter passado por essa mudança – e não me arrependo em absolutamente nada!
Fui eu que resolvi jogar esse jogo #highstakes. E é ele que me conforta e me faz ser feliz diariamente, não apenas nos 20 dias por ano que passo em Americana.
Não, eu não posso negar que o carinho que recebo, especialmente da minha família, é enorme!
Minhas avós cozinham com carinho minha comida predileta!! Minha família me recebe de braços abertos, me enchem de abraços! Ficamos conversando até de madrugada!
É sim muito gostoso estar junto de quem amamos!
Nos encontros com meus amigos relembramos de bons momentos vividos, damos risada do que passou, nos contamos o quanto estamos envelhecendo.
Recordar também é viver!
Existem sim muitos momentos gostosos quando eu estou lá, não posso negar…
Estar na chácara, em especial, é um deles! Pisar na grama, olhar a piscina, sentir todo o carinho que tem lá para mim!!
Comer brigadeiro da vó Cate, vivenciar todas as criquísses da família Nunes…
A parte boa de tudo isso é que esse tipo de afeto eu tenho também pelo telefone! Esses que me recebem com abraços apertados quando eu estou lá também conversam comigo toda semana!
E, quando eu coloco todos esses sentimentos na balança, infelizmente a parte tediante tem pesado mais…
Saber que eu poderia estar usando meu dinheiro para fazer uma outra viagem, ou para investir em uma outra coisa ao invés de estar lá ouvindo os problemas alheios…
3 anos depois de ter me mudado para Floripa eu digo com categoria: essa foi uma das melhores escolhas da minha vida!
Eu suspeitava que morar longe da minha cidade natal seria bom. Mas não sabia que seria tão bom!!
Encontrar o meu próprio jeito de ser, as minhas prioridades, os meus valores. Aprender a conviver comigo mesma, com a minha família…
Eu acho triste sentir a angústia que sinto na semana que antecede minha volta para Americana…
Não é uma sensação boa saber que estou voltando sem querer voltar. Não é mesmo. Mas estou me adaptando a essa realidade, porque já há algumas voltas tem sido assim…
Infelizmente a tendência é que eu volte cada vez menos… E isso deixa de me fazer falta com uma facilidade impressionante…
E se você quer saber se eu tenho vontade de me mudar de Floripa, a resposta é sim, tenho sim!
De preferência para ainda mais longe… Porque quando os problemas resolvem aparecer, parece que 800 Km de distância é perto demais!
E também porque todas essas mudanças, são só o começo… Ainda tenho uma longa jornada pela frente!