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O CHORO É A AÇÃO. A REAÇÃO AO CHORO É SUA… É A REAÇÃO O QUE MAIS ME IRRITA, NÃO O CHORO EM SI
Um dos tópicos da minha pesquisa quando fiz meu próprio curso de gestante foi sobre o choro do bebê (e você pode ler esse post aqui).
Descobri que nem todo bebê chora e mais, que existe uma tal de “criação com apego” que é mais humana do que a criação rígida.
Tomei consciência de que o bebê pode chorar por vários motivos, entre eles: cólica, sono, fome, frio, calor, incômodos diversos…
E também descobri que, especialmente quando pequenos, os bebês podem chorar sem motivo nenhum.
O problema é que só eu descobri e aceitei isso… E muitas das pessoas que convivem com a minha filha se incomodam muito com essa descoberta.
RECÉM-NASCIDO: CHOROS SEM MOTIVO
Quando minha filha era bem pequenina, diria que até 2 meses, quase 3 meses, os choros aparentavam não ter motivo.
Depois de muita pesquisa, choro sem motivo para mim virou sinônimo de cólica.
Mas na prática eu não acho que ela estava literalmente sofrendo com dor de barriga.
O choro começava, normalmente no final da noite, e lá se iniciava o jogo das tentativas erros.
- Tentativa 1: amamentar. Não quer o peito, ok, não é fome.
- Tentativa 2: verificar a fralda. Não está suja, ok, não é a fralda.
- Tentativa 3: tentar ninar. Não é sono, beleza, vamos para a próxima.
- Tentativa 4: está com frio, com calor? Coloca a mão no bebê… Vê se tá soando, se tá gelado… Põe mais roupa, tira roupa… Não parou de chorar? Não?! Continuemos…
- Tentativa 5: algo a mais está incomodando? Procura… Não encontra…. Hummm, será que é cólica?
- Tentativa 6: coloca a mão na barriga do bebê. Vê se está fazendo movimentos, se está se contorcendo. Segura o bebê de barriga pra baixo…
Não parou o choro?!
Ixi, então acabaram as tentativas…
Bebê chora, oras… Depois de vários dias repetindo esse jogo de tentativas e erros, eu me entregava – e começava a contar.
Se nada do que eu fiz até aqui fez o bebê parar de chorar, é algum incomodo que eu não sei dizer o que é.
Ela pode chorar nas próximas 3 horas. Então é melhor eu me acalmar e acolher.
E assim eu fazia.
Estipulei essa como a hora do “meu show”.
Colocava uma boa playlist e ficava segurando ela, tentando encontrar a posição mais confortável, e saia cantarolando pela casa.
Meu show mais duradouro foi de 40 minutos. 40 minutos com o chorinho na minha orelha.
De vez em quando alguém ouvia ela chorar e dizia: “ai que chorinho mais gostoso!”.
Dava vontade de responder: é porque não é na sua orelha né…
Mas faz parte!
Aos poucos eu fui me acostumando com essa rotina e sabia que todo dia teria o meu show particular na parte da noite.
Se ele não acontecia de madrugada, melhor ainda!
Assim passaram os primeiros meses dela, até que os choros começaram a diminuir significativamente.
Eu me sentia muito bem preparada para esse momento.
Tinha hora que o choro parecia que ia me enlouquecer. Mas daí eu lembrava que estava pronta para passar por isso e retomava a racionalidade.
Ou chorava junto (aconteceram poucas vezes!).
Não posso negar que é extremamente angustiante você ficar meia hora com um bebê no colo chorando, sem saber o que fazer para melhorar a situação.
Sua situação de impotência é enorme e, mais do que isso…
Sua cabeça não para. Você tem dificuldade de freiar os pensamentos, porque você está altamente ocioso, com as mãos ocupadas.
O barulho do choro não te permite prestar atenção em outra coisa, então só te resta pensar…
E daí fica a seu critério: se você vai pensar em tudo de ruim que está acontecendo, do porque seu filho está chorando e você não consegue acalmar…
Ou se você tem cabeça para pensar em coisas boas, relembrar seus planos, e fazer o ambiente ficar mais calmo.
Ou, em outras palavras, ficar presente para se acalmar e consequentemente, acalmar seu filho também!
Essa fase não me irritou. De verdade. Eu sabia que passaria por ela e ela passou relativamente rápido ao meu ver.
Considero que, felizmente, minha filha teve poucos episódios de cólica e eu consegui não pirar neles – em quase todos eles!
O INÍCIO DA MANHA
O tempo foi passando e os choros diminuíram consideravelmente.
A partir dos 3 meses, entramos em outra fase na relação com o choro: a mãe, ou a manha.
Quando ela estava comigo, tudo estava bem!
Mas era só tirar do meu colo que começava o chororô…
Essa fase confesso que foi um pouco mais difícil para mim.
A dependência era extrema e eu não entendia o que eu fazia que nenhuma outra pessoa conseguia fazer também.
Não aceitava o tal do cheiro do leite.
Se ela parava no meu colo, poderia parar em outros colos também…
Só que na prática não era bem assim…
O único colo que ela aceitava bem, além do meu, era o da minha mãe.
Quando minha mãe não estava por perto, tudo era difícil… um banho meu, sem pressa, passou a ser luxo.
Essa foi uma fase difícil especialmente com o meu marido.
Eu não conseguia aceitar porque ela chorava tanto quando estava com ele.
Queria que ele encontrasse seu próprio jeito de fazer a neném parar de chorar.
Confesso que até rolou umas briguinhas em casa até que, depois de muito pensar, chegamos em uma conclusão que pareceu bem óbvia!
Toda vez que eu dava a neném para alguém cuidar eu imediatamente sumia para fazer alguma coisa.
Logo, ela começou a associar que se ela estava em outro colo era porque eu ia sumir.
Talvez por isso batia tanta insegurança e o choro vinha.
Então começamos um treinamento intensivo de ela não ficar no meu colo, mas eu ficar por perto.
E a situação foi melhorando, melhorando, até que ela começou a aceitar ficar com outras pessoas! Especialmente o papaizão!
Mas entre o 3º e o 4º mês, esse processo foi pesado sim, não posso negar.
A necessidade de dividir as responsabilidades batem forte em determinados momentos e você quer sim ajuda!
Mas quando a ajuda, ao invés de acalmar o bebê o faz chorar ainda mais, a gente questiona a ajuda.
E é aí que a piração vai tomando conta do seu universo.
Mas, ainda assim, mesmo com todos esses desafios, essa fase me cansou, mas não me irritou.
Eu até brincava com ela que, 30 segundos longe de mim já batia uma saudade imensa!
E era só voltar para o meu colo que o choro cessava na hora – parecia mágica!
Tenho que confessar que é até gostosa essa sensação, de você saber que é, literalmente, o porto seguro de alguém!
PROCURANDO UM MOTIVO PARA O CHORO
Depois do quarto mês entramos no que eu tenho chamado de “filé mignon” da fase de bebê!
Como essa fase é deliciosa!
Os sorrisinhos vão ficando cada vez mais voluntários, você consegue entender mais a linguagem do seu filho!
Já sabe quando o choro é de fome, quando é de sono, quando é de algum outro motivo.
E, principalmente, já sabe o que fazer para que seu filho não chore.
É, tem horas que o que você consegue fazer para evitar o choro dá algum trabalhinho…
Dar mais atenção, interromper o que você está fazendo, sair do ambiente que se encontra…
Mas é fato: você sabe o que fazer para seu filho parar de chorar!
E você, por vezes faz, por vezes o deixa chorar – por critério da sua própria maneira de educá-lo.
Tudo lindo maravilhoso até que… Da sua convivência diária e solitária com seu bebê, você passa a conviver com outras pessoas.
E o seu nível de aceitação do choro passa a não ser só seu, mas do ambiente que você está.
O choro do bebê é um fato dado. A sua reação quando ao choro do bebê você controla.
Por exemplo: todas as vezes que ela estava sentada ou se virando e, por algum motivo, caiu, minha primeira reação sempre foi tentar fazer festa. Meu intuito é que ela não se assustasse com a queda e não tivesse medo de tentar de novo.
Uma ou outra vez a queda foi mais forte e, ao invés da festa (que eu sabia que não resolveria), eu imediatamente a pegava no colo e começava a distraí-la com outra coisa.
Trocava de ambiente, mostrava um brinquedo diferente, alguma coisa que ela não remetesse a queda que acabou de ocorrer.
Mas isso no meu ambiente controlado de reação ao choro do bebê.
Só que, o fato do meu ambiente ser controlado, não impede uma reação natural das pessoas que convivem com a minha filha.
E, usando o mesmo exemplo, algumas das reações que eu vejo são totalmente distintas.
O bebê caiu – é o fato. A primeira reação é esperar que ele chore, para acudi-lo.
Pegar no colo, colocar a mão onde bateu, dizer que vai passar.
Ou as palavrinhas que me irritam: “ai tadinha, machucou?!”
“Você tem que tomar cuidado, se virar assim vai cair e machucar”.
Pronto, chegamos na parte que o choro do bebê me irrita!
É… e não é o choro do bebê em si… É a reação que existe ao redor do choro do bebê.
E eu sei que não é uma reação maldosa. Só é uma reação natural e não treinada.
Mas me irrita profundamente o “tadinha, machucou?!”. Me irrita profundamente insistir no negativo que já aconteceu, ao invés de tentar transformar a situação em algo positivo.
Isso porque eu estou tratando do exemplo da queda. Mas tem vários outros…
Na verdade, me incomoda quando as pessoas ficam tentando encontrar motivos para o choro do bebê.
- Ai, será que ela não tá com frio?
- Ai tadinha, tá nascendo o dentinho é?
- Ah, coitadinha, o barulho tá alto aqui né?
Eu também não gosto de ver minha filha sofrer. Só não acho que é preciso justificar e achar uma solução para todos os problemas que ela encontra na vida.
Todos nós passamos por todos esses problemas e aprendemos a enfrentá-los.
Todos nós temos dores e sabemos lidar com elas.
Mas só aprendemos porque passamos por isso. Minha filha também tem que passar por isso.
Eu concordo quando dizem que o choro é a maneira que os bebês tem de demonstrar seu desconforto com alguma coisa.
Só que eu acredito que, meu papel como mãe, é ensiná-la a lidar com o desconforto – especialmente quando ele não pode passar.
Eu não vou deixar de ir em um casamento porque o barulho é alto. É uma escolha minha.
Se ela vai chorar por causa disso, é uma consequência que eu vou ter que trabalhar. E não vou ficar falando tadinha para ela o casamento inteiro, porque fui eu que proporcionei aquela experiência.
Coça nascer o dente? Provavelmente… E foram só os dois primeiros, ainda tem muita gengiva para rasgar…
Eu não tenho dó. Ela tem que passar por isso, faz parte do processo de crescimento dela.
Eu posso ajudá-la a superar isso, e essa é a missão que eu entendo ser minha.
Portanto, voltando ao ponto central da minha reflexão… O que mais me irrita no choro da minha filha não é o choro em si.
O que mais me irrita são as reações alheias que o choro provoca, especialmente quando essas reações vão no sentido de vitimizar minha filha. Isso é o que mais me irrita.
Ficar procurando a todo momento motivos pelo qual o bebê está chorando. Querer encontrar uma solução para todas as situações.
Bebês choram oras…
Cabe a nós, seja como pais, parentes, amigos e educadores como um todo auxiliá-los a superar seu desconforto.
Nossa reação não só ao choro do bebê como a todos os outros estímulos que ele produz é o que vai determinar a repetição ou não da ação do bebê.
É a criação do hábito dentro da cabeça deles. É a sua reação.
É a arte de educar…
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Caraca, se todas as mães criassem seus filhos assim, não teríamos uma geração (atual) tão vitimada e “especial”!!!