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O FIM DA HISTÓRIA TEVE UMA SIMBOLOGIA ESPIRITUAL FANTÁSTICA…
Minha recuperação do parto do Rafael foi intensa e sofrida, física e emocionalmente, como já contei aqui:
Esta não era a sequencia de posts que eu queria estar escrevendo, mas tenho certeza que meu relato ajudará ainda muitas pessoas que irão passar pelo que passei.
Então bora lá finalizar essa história!
FUGINDO DA CURETAGEM (PARTE 2) E DO HOSPITAL (PARTE 4)
Às 10h da manhã do domingo, 01/11/2020 a equipe Hanami chegou em casa.
Por volta das 10h30 iniciamos o procedimento – o Rafael estava amamentado e dormia no colo do meu marido.
Vou poupar vocês novamente dos detalhes, ok?!
Foi combinado que eu tomaria anestesia no colo do útero, pois nesse momento o procedimento precisava atingir uma parte do útero mais profunda e delicada, que não havia sido atingida da primeira vez.
Eu nem senti a anestesia sendo aplicada.
Porém, imediatamente à aplicação o efeito aconteceu no local mas repercutiu direto na minha boca, que começou a formigar, especialmente a língua.
Pra você ver como o colo do útero realmente é conectado a garganta.
Em seguida a cabeça toda ficou pesada, e eu saí desse mundo e entrei em outro.
Ouvia sons que não existiam – parecia um alarme.
Fiquei tonta, bem tonta – o que me fez fechar os olhos.
Durante uma parte do procedimento elas apenas me perguntavam de pouco em pouco se eu continuava ali – eu não podia dormir.
Mas a tontura era tanta que o principal para mim era me manter de olhos fechados.
Trouxeram azeitona para tentar combater minha pressão baixa.
Tive muita sede, mas a tentativa de tomar água foi frustrada – eu não tinha coordenação para isso.
Depois de um determinado momento o procedimento começou a doer – não onde a anestesia tinha sido aplicada.
Eu sentia uma dor como se tivesse puxando meu ovário direito.
A dor era forte, bem forte e, quanto mais se mexia nos aparelhos, mais doía.
Eu gritei, gemi, chorei… Eu sabia que precisava passar por aquilo.
Em um determinado momento a enfermeira me mostrou um pedaço que havia sido retirado, parecido com o pedaço que eu esperava que saísse, mostrado no ultrassom.
Depois de um tempo ligaram uma música perto de mim e eu consegui me concentrar mais na música – até cantora eu virei, para tentar esquecer a dor.
O procedimento durou pouco mais de meia hora.
Ao retirarem todos os aparelhos as enfermeiras me orientaram a virar de lado para esperar o corpo se recuperar.
Pedi cobertores e ali estava curtindo minha musiquinha.
De repente a Mari chegou com um potinho, para me mostrar o que havia sido retirado.
E daí esse passou a ser o segundo maior susto de todo o processo: eu esperava ver um pedaço de 2cm.
O que tinha naquele potinho era muito mais que um pedacinho.
Não vou colocar a foto para não assustar ninguém (e também porque é nojento), mas havia cerca de 50g de material que foi retirado de lá.
Ela me sugeriu me despedir mais uma vez da minha placenta, que dessa vez ela pudesse ir embora de uma vez.
Foi a deixa para eu mudar de mundo de novo…
RESSIGNIFICANDO MEU MUNDO ESPIRITUAL
Me agarrei com aquele potinho e comecei a chorar.
Fechei os olhos e assisti um filme passar na minha cabeça.
O filme começava exatamente onde terminou aquele meu pesadelo: eu na rua da casa onde mora minha sogra, com o Caio ali mas longe de mim, a bomba relógio prestes a explodir, e o Rafael no meu ventre (sem que eu soubesse que estava grávida).
De repente eu explodi.
Mas de forma muito rápida e mágica essa explosão se transformou num rojão, um lindo rojão cor-de-rosa e verde, com uma circunferência pequena em volta de mim, de modo que não atingisse nem machucasse ninguém.
E conforme esse rojão foi tocando o chão, o asfalto da rua foi se transformando num lindo gramado, bem verdinho.
Nesse gramado nasceram pequenas árvores e algumas flores, deixando-o colorido.
E então esse gramado voou e chegou até aqui, em Jurerê, no cantinho da praia que costumamos frequentar.
Aquele cantinho que é só nosso, da nossa família.
Onde construímos um castelo num dia e esse mesmo castelo fica ali a semana toda para brincarmos.
Onde passamos manhãs deliciosas e vimos pores-do-sol fantásticos.
Onde a Naty é extremamente feliz e amada, brinca que dá gosto.
A Paçoca então, é pura diversão e alegria, olhando para nós com cara de quem nos agradece por estarmos levando ela ali.
Onde o Rafael vai passar a brincar logo mais…
Onde somos felizes, verdadeiramente felizes.
É o cantinho da praia onde vale a pena todo o esforço e as dificuldades que temos passado por nossas escolhas.
É o cantinho onde toda vez que estou lá, com família ou sem, eu simplesmente agradeço por ter me permitido chegar até ali, com a vida que tenho.
E esse cantinho foi ficando verde e colorido com aquele jardim, deixando o cenário ainda mais lindo do que ele já é.
E então durante esse filme eu entreguei a minha placenta ao mar.
Agradeci por ter sido o alimento necessário para meu filho durante essa gestação, por ter feito essa conexão tão linda com alguma de minha vida passada e me despedi dela.
Que ela pudesse agora alimentar peixes e outras vidas, pois não precisávamos mais dela nessa encarnação.
E só então, depois de todo esse filme e toda essa entrega, eu consegui me desgrudar do potinho que a Mari havia me entregado.
É claro que eu ainda estava chorando muito, mas estava muito feliz.
As músicas me conectaram muito profundamente com meu marido, mais profundamente ainda do que com o bebê.
Felizmente ele estava a maior parte do tempo do meu lado, segurando minha mão, enxugando minhas lágrimas e me abraçando.
Esse momento mágico e lindo não foi planejado. Não foi intencionado. Ele simplesmente aconteceu.
Com a influencia (ou não) da anestesia as imagens foram se formando na minha cabeça e eu apenas me entreguei.
Eu entendi logo depois que passei por um momento mágico de ressignificação daquele meu pesadelo.
Até agora, quando lembro do sonho, a imagem que vem à minha cabeça não é mais da mulher que ia explodir, mas sim de um lindo jardim com gramado bem verdinho e flores coloridas.
Eu destruí o que me assombrava. Eu construí um cenário novo, lindo, cheio de amor e alegria onde minha família brinca semanalmente.
VOLTANDO DA VIAGEM ESPIRITUAL…
E voltando ao mundo real, eu ainda continuava muito tonta, sem conseguir sequer falar direito.
Passado esse momento só meu, que deve ter durado cerca de 10-15 minutos, fui orientada a me sentar.
A tontura apenas aumentava…
Depois de tomar uma sopa e um guaraná começou a ser possível ficar de olho aberto, até levantar.
Ainda não dava de ficar muito tempo em pé, mas o suficiente para eu ir ao banheiro me limpar um pouco.
A enfermeira passou tempo comigo e com o marido no quarto explicando o que ela entendeu do caso.
Ela disse que aquele pedaço que saiu é como se fosse uma segunda placenta, uma placenta assessória (também chamada de lóbulo), que acontece em algumas gestações.
Não se sabe explicar por que ela nasce, mas provavelmente é associada a alguma necessidade adicional de nutrição do bebê.
Nessa gestação eu carreguei duas placentas. Talvez uma para essa vida, e outra para a vida que passou.
A primeira, maior e mais importante nasceu junto com o Rafa.
A segunda nasceu após um procedimento de amil (uma curetagem mais moderna), seguido de uma ressignificação surpreendente.
Por incrível que possa parecer, no dia desse procedimento aconteceu exatamente o que eu tinha escrito no meu plano de parto.
- Usei a playlist que tinha feito e sequer tinha aberto;
- Me conectei com a música para deixar a entrega do corpo acontecer;
- Conversei muito com a equipe após tudo acabar, me sentindo bem para isso (e não mal-humorada como fiquei no dia do parto);
- Mandei todo mundo embora para poder descansar!
Eu saí do procedimento com a sensação de que tinha passado por um terceiro parto, talvez um parto espiritual.
Saí muito cética, pois sabia que o resultado só sairia dali a alguns dias, com a realização do ultrassom.
Mas saí feliz por mais uma etapa cumprida dentro desse capítulo da minha vida que foi “Dar à Luz” ao Rafael.
Saí com a torcida que esse seria o capítulo final dessa história, pois a vida… a vida precisa continuar!
O TERCEIRO (E ÚLTIMO) ULTRASSOM
Entre o domingo e a quinta-feira, dia que efetivamente fiz o último ultrassom, tentei não criar muitas expectativas.
Não queria me frustrar de novo.
O sangramento, que seria o principal sinal de que tudo isso teria acabado, não cessou – embora tenha diminuído.
Comecei a enfrentar as decisões que preciso tomar na minha vida, em especial na vida profissional.
Comecei a entender mais profundamente porque todo esse processo aconteceu comigo.
Na quinta-feira, dia 05/11/2020, fui animada para o ultrassom, mas sem grandes expectativas.
Ainda brinquei com o médico: “não vou desistir de você até me dar alta”.
E, para alegria da família toda, a alta veio exatamente naquele dia!
O exame mostrou que finalmente o útero estava limpo.
Dr. Guilherme ainda me disse: “Parabéns, essa gestação acabou!”.
32 dias depois do nascimento do meu filho o parto acabava finalmente.
A vida pode agora seguir e encontrar o caminho que eu preciso encontrar.
Mais madura, super agradecida por ter passado por essa experiência tão transformadora no aconchego do meu lar.
AGRADECIMENTOS
Aproveito para deixar aqui meus agradecimentos sinceros a pessoas que foram muito importantes nessa jornada:
- Primeiro à minha família: Caio que cuidou de tudo nesse período, o Rafa que colaborou muito nos momentos decisivos e mais sofridos para mim, a Naty que compreendeu tudo que estava passando e me apoiou do jeitinho dela, e minha mãe, que foi meu colo consolador durante todo esse processo, além da minha terapeuta particular!
- À Alyssa, minha doula que me ajudou no tratamento natural e a encontrar soluções alternativas para fugir do hospital;
- À Laura, também minha doula, que foi muito mais do que um braço direito nesse processo. Além de estudar e prescrever todo o tratamento natural me ouviu com muito amor e acolhimento, me ajudando a dar lugar a todo esse processo que vivi e, em especial, as consequências que esse despertar me trouxe;
- À Equipe Hanami, por me dar tanta segurança durante toda essa jornada, além de de fato executar os procedimentos no aconchego do meu lar.
Eu nem consigo imaginar o que teria acontecido se não tivesse escolhido ter um parto domiciliar nessa gestação.
E me sinto extremamente feliz por ter montado a equipe que montei.
Penso que, se eu tivesse no hospital, certamente também teria me curado – mas acredito que o processo teria sido mais sofrido (mais dias de internação) e eu provavelmente não passaria pelo paralelo espiritual que pude passar durante os passos que fui dando.
Intuições não acontecem por acaso e eu me orgulho de cada uma das decisões que tomei nesse processo.
Sou apenas gratidão por ter vencido essa etapa e estar pronta para seguir a vida, depois de um parto que durou 1 mês.
Porque é só o começo…