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EU PENSAVA QUE O PARTO HAVIA ACABADO QUANDO MEU FILHO NASCEU… ATÉ TER UM SEGUNDO PARTO!
Então o Rafa nasceu e a minha expectativa era ter uma recuperação ainda mais rápida que no nascimento da Naty.
Mas não era isso que o Universo tinha preparado para mim.
Minha recuperação do parto do Rafael foi intensa e sofrida, física e emocionalmente.
Esta não era a sequencia de posts que eu queria estar escrevendo, mas tenho certeza que meu relato ajudará ainda muitas pessoas que irão passar pelo que passei. Continue a leitura:
Então bora lá contar o perrengues que aconteceram…
UMA CÓLICA INSUPORTÁVEL
Meu filho nasceu em um sábado, às 15h45.
O domingo foi tranquilo de recuperação, uma leve cólica próximo a hora do almoço, nada anormal – já sabia que as cólicas de retorno do útero aconteceriam e poderiam ser ainda mais intensas do que na primeira gestação.
Segunda-feira o dia amanheceu tranquilo e por volta das 11h da manhã resolvi tomar um banho.
Entrei no banho com uma leve cólica – que achei que passaria rápido, como no dia anterior.
Sai do banho com uma dor muito forte, muito mesmo.
Mal consegui me trocar e me deitei na cama.
Não tinha nenhum remédio para tratar a cólica comigo em casa, mas ainda assim achei que passaria.
Por volta das 11h40 eu vi que o negócio estava piorando e não passaria sem remédio, então pedi para minha mãe passar na farmácia e trazer um remédio para mim.
Detalhe que ela buscaria minha filha ao meio dia, mas pedi para ela trazer o remédio para mim primeiro, pois imaginava que daria tempo de ela buscar minha filha em seguida.
Também imaginei que tomaria o remédio, talvez vomitaria (como acontecia como eu era adolescente) e a cólica passaria.
Mas não, não era nada disso que o universo tinha preparado para aquela segunda-feira assustadora.
A minha sorte (e os bebês sempre nos ajudam), é que durante todo esse processo intenso o Rafa dormiu profundamente no colo do meu marido.
Por volta do meio dia minha mãe chegou. Eu já estava resmungando e me contorcendo de um lado para o outro na cama.
Tomei o buscopan que, na prática, não fez nem cosquinha nas dores que eu estava sentindo.
Não deixei minha mãe sair mais de perto de mim, pois meu marido estava com a missão de manter o bebê dormindo, pois eu não tinha condições nenhuma de dar atenção para ninguém.
Começaram contrações. Isso mesmo, contrações.
Por que eu teria contrações? Meu bebê já tinha nascido…
A dor era insuportável. 5 vezes pior que a dor do parto.
Eu me mexia, gritava, mandava a contração embora. Chorava, urgia…
Todos começaram a ficar preocupados e começamos a acionar nossa rede de apoio.
A Ju, nossa parteira da Hanami na primeira ligação disse que era normal, que era uma cólica de mãe de segunda viagem.
Instruiu que eu poderia tomar dipirona – algo que não quis fazer de imediato pois ainda acreditava que o buscopan poderia fazer efeito.
Por volta do 12h45 bateu o desespero em todos nós.
Já fazia 2 horas que a cólica havia começado, e 1 hora que estava naquele modo insuportável.
Já tínhamos ligado novamente para a Ju e estávamos tentando uma possível medicação na veia, pois o negócio estava fugindo do controle.
Para ajudar a Naty também ficou assustada de ter que ficar na Aldeia mais tempo (tadinha, no primeiro dia de irmão já dei uma dessa com ela…), e a Carol a trouxe para casa.
Mas felizmente ela reagiu bem e ajudou a cuidar de mim.
Começamos a cogitar a possibilidade de ir para o hospital, pois nenhuma farmácia aqui perto tinha a medicação injetável.
Por volta das 13h eu tomei a dipirona e, felizmente, ela fez efeito.
Mais uns 15 minutinhos de dor e começou a passar.
A dor foi dando lugar ao frio e à febre…
Veio o primeiro cobertor, o segundo e quando eu vi estava embaixo de 4 cobertores e tremendo de frio.
Mas pelo menos não tinha mais dor, conseguia conversar, raciocinar.
Por volta das 14h estava bem, com febre, mas já num estado suportável.
Além do parto em si, no dia desse segundo parto eu fugi pela segunda vez do hospital, evitando ter que ir para lá tomar medicação na veia.
Passei a tarde bem, descansei.
NASCENDO…
Ah, e você deve estar se perguntando por que segundo parto, né?!
Por que depois que tudo isso passou e parecia que realmente tinha sido só uma cólica, veio a parte assustadora da história.
Já eram quase 21h, coloquei a Naty para dormir e fui ao banheiro com vontade de fazer número 2.
Ao fazer força senti algo sair de dentro de mim e pensei: “nossa, deve ter saído um coagulo grande agora”…
Até me levantei e olhei no vaso mas não tinha nada de anormal.
Quando fui me limpar, para minha surpresa, havia algo pendurado em mim.
Ah, que nojo, tive ainda que pegar com a mão e literalmente tirar de dentro de mim.
Vou te poupar das fotos e dos detalhes mas, simplesmente, “nasceu” um pedaço da placenta que havia ficado lá dentro.
E não era um simples pedaço… Era mais ou menos do tamanho de uma pêra, pesava cerca de 300 g.
Pensa no susto que eu tomei.
Eu e todos que estavam me acompanhando.
Ninguém entendia como meu corpo carregou aquele pedaço por 2 dias sem apresentar nenhum sintoma como hemorragia, febre…
A “única” coisa que eu tive foi essa cólica louca do dia, e mais nada.
Mas a cólica por si só, óbvio, ajudou a expulsar esse pedaço, mas não era o indício que justificasse o tamanho do trem que estava ali.
Fui dormir nessa segunda-feira super assustada.
E mal sabia eu que esse era apenas o começo da história…
A DOR DA DECISÃO
Definitivamente essa segunda, 05/10/20, foi um dos piores dias da minha vida.
Depois dessa dor intensa e de uma ausência de apoio por pessoas importantes que estavam ao meu lado, o que me fez me sentir bastante rejeitada, o Rafa caprichou na noite.
Tadinho, provavelmente ele tinha fome e com tudo isso acontecendo comigo eu já nem lembrava mais da história da descida do leite.
Nessa noite eu não dormi mais de 15 minutos consecutivos.
Migrei em todos os cômodos da casa, tentei todas as posições possíveis, mas nada o acalmava e, de 30 em 30 minutos ele queria mamar.
Sobrevivi e o dia nasceu – finalmente!
A terça-feira foi relativamente normal, eu passei o dia dopada. Não passava 1 minuto do horário do remédio, tudo que eu não queria para mim era passar por aquela dor de novo.
A Ju veio me ver, me examinou, tudo parecia bem.
A única explicação que tínhamos para o fato ocorrido até então é que minha placenta havia nascido “ao contrário”, ou seja, com a minha face virada para cima ao invés da face do bebê.
Isso provavelmente ocasionou um descolamento não completo da placenta e por isso aquele pedaço remanescente.
Mas por enquanto era “só” isso.
Durante a visita da Ju o leite desceu, o peito teve sua reação natural e a amamentação tornou-se difícil e dolorida com as rachaduras que apareceram.
Mais uma noite veio e, graças ao leitinho, conseguimos dormir um pouco melhor, pois um dia intenso estava por vir.
Na manhã de quarta-feira fui ao banheiro e eis que me sai outro pedaço de dentro de mim.
Dessa vez menor, do tamanho de uma uva mais ou menos.
O suficiente para plantar a dúvida na nossa cabeça: o que mais tem aí dentro?!
Nesse momento eu tive a certeza que precisava investigar. Entendi que precisava fazer um ultrassom.
Eu mesma tinha certeza de que algo a mais havia dentro de mim.
Então comecei a tentar entender o que aconteceria se eu fosse para o hospital fazer um ultrassom e ainda houvessem restos dentro de mim.
As notícias que fui recebendo não foram nada animadoras…
As chances eram que eu seria internada e precisaria passar por uma curetagem em seguida.
Ninguém sabia me dizer se meu bebê poderia ser internado comigo e muito menos como eu faria para amamentá-lo durante todo esse processo.
Encarar a realidade de ter que passar por uma curetagem com 4 dias de vida do meu filho não foi uma tarefa fácil.
Uma crise de choro tomou conta de mim, e eu chorei por mais de 2 horas sem parar.
Não fazia o menor sentido para mim ir para o hospital.
Eu fiz de tudo para não ter que encarar um hospital no parto por conta do COVID, porque teria que ir agora com ele recém-nascido.
O leite tinha acabado de descer. Se eu ficasse muito tempo sem amamentar certamente teria uma mastite.
E meu filho, como se alimentaria nesse momento? Não tínhamos tempo de tirar leite.
De todos os episódios que já contei e ainda vou contar desse pós-parto, essa quarta-feira foi a de maior dor emocional.
Eu precisava tomar uma decisão.
Ficar com aquelas coisas dentro de mim não era uma opção. Eu precisava passar pelo procedimento.
Eis que durante todo esse processo o apoio da equipe do Hanami foi fundamental na minha decisão.
Elas me ofereceram a possibilidade de fazer um procedimento de curagem em casa.
Que, pelo que eu entendi no momento, era algo mais leve que a curetagem mas com o mesmo objetivo.
Essa foi a saída que me pareceu mais leve no momento e eu queria muito não ter que ir para o hospital e submeter meu filho a essa situação.
FUGINDO DA CURETAGEM (PARTE 1) E DO HOSPITAL (PARTE 3)
Na quinta-feira, 08/10/20, 5 dias de vida do Rafael, minhas parteiras vieram em casa para fazer o procedimento em mim.
Eu estava tão feliz mas tão tão feliz de não precisar ir para o hospital, que me sentia super preparada para o que vinha a seguir.
Entre a decisão de elas virem e a chegada delas, procurei não me informar muito sobre o que aconteceria naquele dia.
Fui ingênua, confesso. Subestimei a complexidade do procedimento que eu passaria.
Se eu tivesse raciocinado um pouco mais teria chamado minhas doulas para estarem ao meu lado nesse momento.
A única pessoa que estava em casa era o Caio, novamente com a missão de fazer o Rafa permanecer dormindo durante todo o processo.
Ele nem entrou no quarto.
Eu senti muita falta de uma mão para apertar.
Novamente, vou poupar vocês dos detalhes do procedimento que, por si só, já é também assustador – para quem nunca teve contato com esses materiais.
Durante 60% do tempo eu me mantive bem e tranquila.
Nos 40% final, a repetição do movimento de sucção começou a incomodar, mas ainda assim foi bem suportável.
A enfermeira repetiu mais de uma vez: “Você não está anestesiada, então eu estou fazendo o procedimento de forma superficial, tirando apenas o que está solto”.
Eu continuava muito grata por elas estarem ali e eu não precisar ter ido ao hospital.
Quando tudo terminou, elas peneiraram o sangue e chegaram no material que tiraram.
Perguntaram se eu queria ver e eu nem dei bola… Não queria. Ter tirado com as mãos aquele pedaço de dentro de mim já havia sido suficientemente nojento, não queria nem ver o que mais havia saído.
Elas classificaram a quantidade como “moderada”.
Não era pouco. A intuição de que tinha algo mais dentro de mim era verdadeira. Eram pequenos pedaços, mas estavam ali.
As parteiras foram embora.
Sobrou em casa uma mulher em um puerpério profundo.
O procedimento me abateu mais do que o parto em si.
Eu estava mais dolorida do que quando o Rafa nasceu.
Grata imensamente por estar com meu filho em casa, abatida emocionalmente por tudo que estava passando.
AS EXPLICAÇÕES ESPIRITUAIS
Ter tido contato com todo aquele material despedaçado e com todas as explicações que estava recebendo do meu caso me fez criar uma conexão direta dessa situação com meu pesadelo, que descrevi nesse post.
Aquela “explosão” que passei grávida do Rafael na minha vida passada não saia mais da minha cabeça.
Eu só conseguia imaginar que os restos placentários que ainda estavam no meu útero eram resquícios daquela explosão.
Que eu estava carregando no meu ventre resquícios de uma vida passada mas que, lindamente, cumpriram sua função nessa vida formando a placenta que nutriu meu bebe durante toda nossa gestação.
Mas agora eu não precisava mais desse material. Ele precisava sair de dentro de mim.
Eu queria que ele já tivesse saído…
Mas esse ainda não é o fim dessa história.
Veja a sequência desse post: