Tempo de leitura: 11 minutos
Essa provavelmente foi a principal decisão familiar que tomei em 2021 e, certamente, a mais longa decisão do meu ano.
Quando 2021 começou, minha filha mais velha havia acabado de completar 3 anos e minha família se mudou de cidade.
Veja outros posts sobre homescholing:
Eu sabia que uma vida nova estava para começar e queria manter, de alguma forma, minha política de não enviar minha filha à escola.
Ah, sério mesmo… Depois de estudar o Murilo Gun (seja no reaprendizagem criativa, seja no criando crianças criativas), é quase impossível colocar seu filho na escola sem pensar duas vezes.
E aqui em casa não foi só duas não… Foram várias dezenas de vezes.
Eu já estava decidida que queria uma solução inovadora para minha filha, porém ainda não sabia qual era.
QUINTAL PÉ DE QUÊ
Conversando com uma amiga de longa data na cidade, que também tinha uma filha da idade da minha, fui apresentada ao Coletivo Quintal Pé-de-Quê.
Estávamos em fevereiro de 2019 e eu sequer sabia onde ia morar… Mas me apaixonei perdidamente!
Me lembro bem daquela noite em um quarto de hotel olhando as fotos e as brincadeiras realizadas naquele quintal.
Era não apenas tudo que eu estava procurando, mas era também a realização de um sonho empreendedor que deixei para trás quando saí da Aldeia (coworking familiar no qual fui sócia em Floripa).
Contudo, porém, estávamos em um ano de pandemia né…
Entre o coração se apaixonar e a Naty começar a frequentar o Quinal pegamos COVID, nos adaptamos no nosso novo lar, até que finalmente em meados de abril começou a adaptação.
Que foi difícil para mim, confesso!
Mesmo confiando no trabalho, nas pessoas, estando certa da minha decisão… Minha baixinha não largava das minhas pernas, eu conversava infinitamente e mesmo assim ela apegava.
Teve que ser com um pouco de choro e separação – que durou muito pouco, pois ela já tem o sangue quintaleiro e faz a festa no Quintal desde sempre!
Eu não sei exatamente qual parte de mim se sente mais feliz de ela estar no Quintal…
- Se é quando recebemos um aviso que amanhã (um dia qualquer) vai ser dia de clube – então leve maiô!
- Se é quando ela começa a cantar as músicas que aprende no Quintal;
- Se são os pezinhos imundos que voltam cheios de terra todos os dias;
- Ou quando ela volta com um colar de índio feito de folha.
Ah gente, é muito amor por um coletivo tão maravilhoso e meu coração ficou quentinho quentinho depois de descobrir ele!
Curtimos intensamente 2021 nele e, conforme 2022 ia se aproximando, meu coração já palpitava ao pensar na possibilidade do Quintal não ser mais uma solução na nossa vida.
Os 4 anos estavam chegando e eu precisava, por direito da minha filha, ter uma decisão sobre a educação dela.
AS AULAS DE INGLÊS
Mas antes de chegar na decisão de fato, vamos a outro capítulo importante da história!
Minha irmã trabalha em uma empresa que é dona de várias escolas no Brasil e no mundo.
Por lá, ela teve contato com um material de inglês para crianças da idade da minha filha, material muito rico e interativo.
E decidiu dar de presente para minha filha aulas de inglês.
Era junho de 2021 quando começamos as aulas.
Eu estava super apreensiva, afinal de contas minha filha nunca tinha frequentado uma sala de aula.
Podia até parecer normal para as demais crianças, até mais novas que ela. Mas ela não entendia porque tinha que ir para uma sala ficar longe da mamãe.
Foram 2 meses de tentativas frustradas de adaptação.
No meio de uma rotina intensa de trabalho que não me permitia me dedicar do jeito que eu gostaria a esse aspecto.
Mas nada na vida é por um acaso…
Em agosto eu decidi que não iria mais levá-la a escola de inglês.
Ela não gostava de ir até lá, porém, amava o material – e fala sério, não tem como não gostar de uma caneta que canta e fala com você!
Por isso em setembro começamos a fazer as atividades de inglês em casa.
E, para minha surpresa… Foi uma diversão!
Todo mundo entrou na brincadeira, mamãe, papei, até o irmão mais novo que pegava a caneta e saía correndo!
Fazer aula de inglês com ela passou a ser um dos momentos mais divertidos da semana!
Ainda mais para mim, que não sou aquelas mães que ama de paixão brincar… mas ama de paixão estudar!
Rapidinho ela aprendeu que, para ter minha atenção plena, era só me pedir para fazer aula de inglês!
E lá ia eu feliz e contente ensiná-la.
O mais interessante de tudo é que, quando você estuda junto com seu filho, você consegue ser muito mais didático no seu dia-a-dia.
Me lembro do dia que a aula foi sobre pets. Nós estávamos precisando comprar ração para nossa cachorrinha e fomos todos à loja de pets para reproduzir in loco todos os nomes novos que tínhamos aprendido na lição.
O mesmo aconteceu quando a aula ensinou o nome dos brinquedos do parquinho, das frutas da feira, dos animais do zoológico.
Quando você está de fora, pode até saber por cima o que é ensinado para seu filho. Mas certamente não entra na mesma vibe do que quando você mesmo ensina para ele.
Enfim, a experiência do inglês em casa foi um segundo pilar super importante para nossa decisão famíliar.
A HORA DA ESCOLHA
Os meses foram passando, a procrastinação da decisão só aumentando…
Eu sabia que, em janeiro de 2022 minha filha precisava de uma matrícula em instituição de ensino – e que, para isso, eu precisava fazer algum movimento até outubro.
Já tinha uma lista de escolas que mais simpatizava, embora jogasse sempre para a semana seguinte a visita a essas escolas.
Já tinha procurado o calendário municipal das creches.
Mas nenhuma das opções aquecia meu coração.
Até que, um belo dia, vendo o instagram, dei de cara com uma colega de faculdade e de trabalho fazendo um tal de “Homeschooling” com a filha dela – que também tem mais ou menos a idade da minha filha.
É interessante como nosso cérebro funciona né…
Até esse momento eu já havia ouvido falar sobre isso, mas nunca pensei que fosse para mim.
Porém quando vi alguém relativamente próximo, pensei… Porque não seria para mim?
Imediatamente mandei uma mensagem a essa amiga, que me deu alguns primeiros passos.
O Google teve sua colaboração para eu começar a entender o que era esse movimento.
Me interessei, comecei minha busca, minha pesquisa.
Depois de alguns dias entendi que um dos primeiros passos era a necessidade de estar preparada juridicamente para qualquer tipo de denúncia.
Entendi também que a legislação que dá a criança o direito de ir a escola a partir dos 4 anos preza muito mais para a segurança da criança contra trabalho infantil e abusos dentro de casa do que pela questão da educação em si.
O que, obviamente, não é o caso da minha família…
Algo dentro de mim dizia que essa era a solução.
Alguns passos precisavam ser dados – entre eles, escolher o material que eu utilizaria.
Mas antes de começar efetivamente a me dedicar em ser uma mãe homescholler, eu precisava do apoio de algumas pessoas da minha família.
Criei um discurso para convencer a todos ao redor.
O primeiro que precisava ser convencido era o marido. Foram algumas conversas, até que chegamos em um combinado de tentar o homescholling por um ano (a princípio, não mais do que isso).
Combinamos de não falar muita coisa para a família maior, pois sabíamos que, por amor, eles teriam uma postura um pouco contra nossa decisão.
E quando a decisão estava tomada e eu só precisava continuar, veio a enxurrada de desânimo…
Aquela hora que o coração já sabe o que fazer… A mente porém me contava várias histórias:
- De onde você vai tirar tempo para preparar material e estudar com ela?
- E se ela não gostar?
- Será que você tem capacidade mesmo de alfabetizar sua filha?
- Como vai ser a adaptação dela depois quando ela efetivamente for à escola?
Eram dezenas de perguntas que, misturadas com minha correria do dia-a-dia, quase me fizeram desistir.
Eu passei cerca de 2 meses em uma inércia absurda sobre o assunto.
Dizia que queria, que esse era meu destino. Não matriculei minha filha em nenhum lugar. Passei os prazos das creches municipais. E, ao mesmo tempo, não dava os passos necessários para avançar.
A DECISÃO EM SI
Durante todo esse processo de convencimento e amadurecimento de tudo que estava acontecendo, os dois pontos que contei antes me davam muito suporte à minha decisão.
O primeiro era frequentar o Quintal Pé-de-Quê. Eu tinha a certeza de, além de ela ser muito bem acolhida no Quintal, ela tinha toda a estrutura social necessária para o desenvolvimento dela nessa idade.
E, sério… Eu não queria perder o Quintal. Não fazia sentido algum para mim tirar ela do Quintal e deixar meu caçula. Penso que seria um sofrimento para nossa família esse movimento.
O segundo ponto eram as aulas de inglês, que viraram nossa brincadeira favorita em casa!
Ver ela apreendendo com tanto amor, gostando de aprender. E eu, nerd de sempre, amando ensinar!
Não posso negar que alguns dos meus vizinhos colaboram (negativamente) nas minhas opiniões.
Ouvia na rua: “vamos, hora de entrar, você precisa fazer a lição de casa, e estudar para a prova”.
Frases essas seguidas de choro e frustração por parte da criança, que só queria continuar brincando.
Pensava comigo: aqui em casa não tem prova. Não tem sofrimento. Não precisa parar de brincar.
Porque estudar era parte da brincadeira, era um momento de conexão com a família.
Sim, eu estava preparada, só precisava de coragem.
Até para o tarô minha decisão foi, e saiu um jogo super favorável para continuar seguindo meu coração.
Daí sabe aquele dia que a chavinha vira?
Então, aconteceu debaixo de um sol de 40º quando trombei com a Lu, a dona do Quintal, no portão esperando as crianças chegarem.
Ela me perguntou como estava meu projeto Homescholling e, ao responder para ela, eu respondi para mim.
Aquele dia eu consegui sair da inércia e criar o movimento que precisava criar para fazer acontecer.
Aquele dia (que não lembro exatamente que dia era), estávamos na metade de novembro de 2021 – e entendi que a principal decisão da minha família para este ano havia sido tomada.
Decisões assim nunca são fáceis né?
E parece que, só o fato de elas demorarem para serem tomadas já é um dos indicativos da complexidade delas.
Mas decidi – e os primeiros passos que dei vou deixar para contar em um próximo post!
A felicidade do final do ano foi renovar o contrato com o Quintal, de cabeça erguida e consciente de ter feito a melhor escolha para meus filhos!
Veja outros posts sobre homescholing: