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EU QUERIA NÃO TER CONHECIDO O FUNDO DO POÇO… MAS NÃO CONSEGUI FUGIR DELE
Você conhece o fundo do poço?
Talvez você conheça talvez não…
Eu não conheci durante mais de 30 anos.
Mas um dia ele chegou, e eu vim aqui dividir essa experiência, fria e sombria, com você…
COMO EU SOUBE QUE NÃO ERA APENAS MAIS UMA CRISE
Desde que minha jornada empreendedora começou, em 2016, eu ouvi muitas histórias de empreendedores de sucesso.
Grande parte delas tinha algo em comum: quase todos chegam no fundo do poço antes de prosperar.
E eu não simpatizava com essas histórias.
Queria escrever a minha diferente.
Queria chegar na parte da prosperidade sem tem que passar pelo fundo do poço.
Mas no fundo no fundo de tanto ouvir histórias como essas eu sentia que, em algum momento da vida, o meu fundo do poço chegaria.
E ele chegou.
Veio disfarçado, claro, por estar vivendo um momento muito gostoso e pleno da minha vida. Mas chegou.
Eu demorei a perceber quão ruim eu me sentia.
Sempre muito forte, acho que é só uma crise e que logo vai passar.
Toda vez que entro em algum desafio, seja interior, exterior, profissional, fico sempre focada na solução.
Entender e desenhar o problema é, claro, uma etapa importante do processo.
Mas sempre me animo com as soluções e vou logo em busca da melhor, da mais apropriada para o momento.
Estar indo em direção à solução me conforta, faz a crise passar.
E dessa vez foi diferente.
Foi diferente primeiro porque eu não encontrei a solução de forma tão óbvia e trivial como eu normalmente encontro.
Segundo porque, mesmo com as soluções encontradas, eu não tinha vontade de agir.
Eu percebi que estava no fundo do poço quando a vontade foi embora.
A vontade de enxergar o problema, de assumir o problema, de tentar resolver.
Eu simplesmente me via sentada cabisbaixa num cantinho de um quarto escuro e queria ficar lá.
Não queria levantar. Não queria ir para o claro. Só queria ficar ali sentadinha.
Não é da minha natureza não querer resolver os meus próprios problemas.
Foi nessa constatação que eu entendi que o fundo do poço havia chegado.
UM CONTEXTO MAIOR
Tudo isso aconteceu entre final de janeiro e fevereiro de 2020.
Depois de uma longa jornada empreendedora (desde 2016), eu tive um 2019 extremamente próspero para as minhas condições.
Estava muito feliz com meus projetos empreendedores, com meu ganho financeiro, com minha vida em casa, com minha família, com a maternidade.
Muita coisa estava equilibrada mas, no final de 2019, havia algo que me incomodava.
Meu marido estava insatisfeito no trabalho dele.
Aquele trabalho que me permitiu, por 4 anos, viver meu sonho de empreender.
Sentia que agora era a hora de ele também experimentar algo novo, diferente do tradicional, algo que eu já estava experimentando há mais tempo.
Com um cenário muito otimista de 2019, super apoiei ele para sair do emprego.
E assim ele fez.
Depois disso nós nos mudamos para mais perto do meu novo empreendimento.
Trocamos toda nossa vida pelos projetos que eu tinha.
Passamos um verão excelente com muitas visitas de família.
Nosso ano de 2020 não começou depois do Carnaval – ou melhor, ele melhorou muito depois do Carnaval.
Ele começou em meados de janeiro quando todas as visitas foram embora, quando a mudança de fato havia acontecido, e quando o dinheiro na conta acabou.
Mas foi mais que um simples furo de fluxo de caixa.
No caixa futuro só haviam contas para pagar – e nada, absolutamente nada a receber.
Meus projetos paralisaram, eu entrei numa crise interna super forte, não sabia para onde queria ir (e não sei até o momento que escrevo esse post).
Eu não tinha mais renda, pois as coisas não andaram naquele otimismo todo que estava em 2019.
Meu marido também não tinha mais renda, pois eu o ajudei a tomar a decisão de sair do emprego.
E até o momento ele ainda não sabia o que queria fazer da vida.
A falta de horizonte de fluxo de caixa começou a ficar cada dia mais evidente.
A responsabilidade de ter chegado até aqui começou a pesar.
Ainda mais pelo fato de eu ser a responsável por organizar as finanças da casa…
Toda virada de mês era aquela angústia, que ia crescendo a cada mês.
Eu comecei a ter crises seguidas de choro – que, repito, não são comuns para mim.
Mas eu ainda tinha uma pontinha de esperança de ser só mais uma crise…
ATÉ QUE…
Eu descobri que estava grávida!
Uma gestação esperada por muito tempo e que, de tanto tempo de espera, eu não imaginava que viria neste momento.
Por um lado entendi porque eu estava emocionalmente tão afetada.
Por outro, me abalei ainda mais.
Sabe aquela luzinha de esperança de que tudo vai dar certo no final?!
Ela apagou… No final eu tinha um relógio fazendo uma contagem regressiva contra mim.
No final eu comecei a entender que dali alguns meses eu teria que me dedicar exclusivamente ao meu bebê, o que colocaria em cheque qualquer coisa que eu começasse agora.
O mês de fevereiro de 2020 foi um dos meses mais ambíguos da minha vida.
De um lado uma certeza do caminho traçado, confirmado pela gravidez que esperávamos há tanto tempo.
De outro, uma angústia horrível de estar sem horizonte financeiro, de literalmente não saber o que fazer e, pior de tudo: de não ter vontade de fazer nada.
Eu estava fazendo mentoria e encontrei muitas respostas no meu caminho.
Simplesmente não queria seguir nenhuma delas.
Minha real vontade era simplesmente sumir, desaparecer.
Era de já ter conquistado minha liberdade financeira.
Era de ganhar na loteria.
Minha relação esforço resultado começou a ficar cada vez mais desequilibrada.
Quanto mais parecia que eu fazia, menos resultado parecia que eu colhia.
E assim o mês se foi.
Duas ou mais crises na semana – quinta-feira era tipo o dia oficial da crise!
Muita reflexão, muito questionamento, muito vazio, muita dor.
Confesso que fiz uma coisa que não me orgulho de ter feito, mas foi a única saída que consegui para o momento.
Atrelei esse momento de fraqueza e sensibilidade aos hormônios que dizem que se afloram no primeiro trimestre da gestação.
Coloquei a culpa na barriga…
Eu sei que a culpa era minha, mas a falta de controle que eu tive sob a situação e a falta de vontade de resolver a vida me fizeram jogar tudo para o emocional da gravidez.
E o mês foi passando…
ATÉ QUE O FUNDO DO POÇO FICOU PARA TRÁS
Sabe como ele é realmente? É escuro, é frio, é solitário…
Não importa se o lugar que eu escolhia para curtir ele era uma praia linda e quentinha há 3 minutos de caminhada da minha casa.
Ele continuava vazio, frio…
Eu me lembro de ter sofrido outras vezes na vida – em 2013, por exemplo, quando joguei a vida pro alto e fui fazer intercâmbio.
Me lembro de ter passado por sentimentos semelhantes.
Mas não me lembro dessa falta de vontade de resolver a vida…
Eu escrevo esse post quando faz mais ou menos 1 mês que me vi no fundo do poço.
Hoje já não me vejo mais…
Sinto que já consegui escalar alguns pequenos degraus, e já estou vendo um feixe de luz na saída dele.
Ainda não é uma luz ardente e certeira – mas já não é mais o fundo do poço.
Repeti e repito para mim todo dia: uma dor tão grande só vem por conta de algo muito bom que está por vir.
Já havia dito meu guia espiritual: segure as pontas, pois será intenso, mas rápido.
É nisso que eu tenho acreditado todos os dias.
Que foi/está sendo intenso, horrível.
E que já passou.
Que qualquer lugar que eu esteja agora já é um pouquinho melhor que o fundo do poço.
Talvez eu precisasse ter passado por ele para ter energia para continuar, para seguir.
Passei por ele de cabeça erguida, sem me envergonhar das minhas escolhas – as questionei, e muito! Mas não me envergonho dela.
E ainda não sei como vou sair dele.
Mas, como diz meu mentor Gerônimo Theml, não faz sentido em um dia estar no fundo do poço e no outro no pico da montanha.
O primeiro movimento é conseguir olhar para cima.
Depois começar a escalada.
E é nesse ritmo que estamos…
Quando eu sair do poço em si, com certeza terei uma barriguinha a mais, que ainda crescerá e muito!
E quem sabe eu volto para te contar qual foi essa luz e se ela realmente deu certo!
Mas vamos deixar acontecer né… por enquanto, bora escalar esse poço!