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PORQUE É MAIS BARATO PLANTAR SOJA NO BRASIL MAS MAIS LUCRATIVO EXPORTAR SOJA NOS EUA?
No post passado eu elenquei 5 desafios da logística agrícola e, nesse post vou me aprofundar no 4º deles que é o baixo valor agregado – combinando assim os desafios de ineficiência logística que nosso país impõe a nossos próprios produtores.
Como eu disse no outro vídeo, a precificação das commodities é dada na bolsa de mercado futuro e esse preço é válido em todo o mundo. A soja no porto no Brasil vale exatamente a mesma quantia da soja no porto dos EUA – um grande país produtor e exportador, assim como o Brasil.
Considerando que:
LUCRO = RECEITA – CUSTO
E que a receita é dada, pois a soja é precificada nas bolsas de mercado futuro, o lucro terá uma relação direta com o custo. Quanto maior for o custo, menor será o lucro e vice-versa. Se considerarmos o custo apenas de produção e de transporte até os portos, chegamos em duas conclusões quando comparamos o Brasil e os EUA:
- No Brasil, o custo de produção da soja dentro das fazendas é menor do que nos EUA;
- Porém, o custo de transporte até o porto chega a ser de 3 a 7 vezes superior do que nos EUA.
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Nesse sentido, é mais barato produzir soja no Brasil, mas é mais lucrativo nos EUA. Essa ineficiência no sistema de transporte tira do produtor brasileiro grande parte de sua lucratividade e também de sua competitividade.
Eu achei uma reportagem um pouquinho velha (de 2010), mas que 80% do raciocínio continua válido. Vale a pena dar uma olhadinha! Veja aqui!
INEFICIÊNCIAS LOGÍSTICAS NO BRASIL
E então quais são os fatores que fazem o custo logístico ser muito superior no Brasil?
Basicamente estamos falando do preço do frete, que é influenciado pelas condições de nossas estruturas modais (seja condições de qualidade, seja condições de existirem).
Nós temos sérios problemas na nossa infraestrutura que são agravados pelas disputas políticas que, entra governo, sai governo, mudam-se os nomes dos planos de investimento mas nada acontece.
Vou dividi-lo por modais:
INEFICIÊNCIA LOGÍSTICA NO MODAL RODOVIÁRIO
Historicamente, o Brasil é um país rodoviário em função dos programas políticos de incentivo a construção de rodovias e também à industria automobilística.
Toda a malha rodoviária brasileira é necessária e ainda assim insuficiente, mas ninguém disse que, para se investir em rodovias seria necessário deixar de se investir em outros modais de transporte…
INEFICIÊNCIA LOGÍSTICA NO MODAL HIDROVIÁRIO
É contraditório dizer isso mas, embora o Brasil possua uma vasta densidade hidrográfica, nós não temos um transporte tão eficiente hidroviário quando gostaríamos.
Nossa exceção ocorre no norte do país, onde o transporte por hidrovia, além de ser a única alternativa, funciona bem! Lá no norte, temos observado os avanços mais significativos de mudança de padrão no transporte, especialmente no recém inaugurado terminal de Miritituba.
Tirando a região norte, nos demais rios brasileiros não temos uma vantagem logística tão grande, pois nossos rios não desembocam no oceano (o que facilitaria o processo de exportação) e além disso possuem recortes bastante acidentados – o que é bom para a atividade de geração de energia elétrica, mas ruim para o transporte pois precisa de eclusas.
INEFICIÊNCIA LOGÍSTICA NO MODAL FERROVIÁRIO
Daria para ficar horas falando sobre esse modal aqui e todas as limitações. Vou me atentar apenas a dois fatos:
- Nossa capacidade de construção de ferrovias no Brasil é muito baixa. Temos problemas políticos, de corrupção, de engenharia e tantos outros que nem vale a pena ficar citando – e por isso o avanço da malha ferroviária é muito lento. Embora existam inúmeros projetos, a realidade é triste. Para você ter uma ideia, faz 10 anos que eu acompanho esse assunto no Brasil e de lá pra cá, o único trecho ferroviário que eu vi sendo inaugurado foi 200 Km do trecho entre Rondonópolis e Alto Araguaia. Também tiveram alguns avanços na ferrovia Norte-Sul, mas muitos trechos ainda continuam sem operação. Essa reportagem do fantástico traz uma boa visão que, embora de 3 anos atrás, continua válida também (exceto pelo terminal portuário de Itaqui, onde os armazéns já estão prontos e operando).
- Mesmo nos locais onde temos ferrovias, existe uma concorrência grande entre o frete rodoviário e o ferroviário. Na teoria, era para o transporte ferroviário ser mais barato, mas a precificação é feita baseada no frete rodoviário, não garantindo assim competitividade de migração de modal. Esse caso é muito típico no estado do Paraná e em algumas situações no estado de São Paulo
O assunto é bastante complexo e, se você quiser saber mais sobre ele, deixe aqui nos comentários que eu posso me aprofundar.
Nos vemos no penúltimo post. Até lá!
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