Tempo de leitura: 7 minutos
AGENDA CHEIA NO FINAL DE SEMANA – ESSE É O PRINCIPAL SINTOMA DESSA SÍNDROME
Você já ouviu falar da Síndrome do Sufoco Social (SSS)? Eu suponho que não, porque eu acabei de inventar esse nome… (e o google me disse que ele não existe!)
Foi o nome que me pareceu mais adequado para contrariar a minha liberdade de agenda no final de semana (veja o que eu falei sobre liberdade de agenda durante a semana aqui).
E, como eu já estive dos dois lados, resolvi compartilhar aqui com você minha experiência.
Caso você seja algum parente ou amigo de Americana, por favor não fique chateado com o que eu estou falando. Não é nada pessoal, apenas a minha forma de expressar o que eu sentia quando morava aí.
SINTOMAS DA SÍNDROME DO SUFOCO SOCIAL
Ter a agenda do final de semana lotado… Não poder ter um dia sem programação, fazer simplesmente o que der vontade no momento…
Esses eram os sintomas principais da minha síndrome.
Veja bem… Meus pais são separados e os pais do meu marido também. Então como eu visitava uma família a cada final de semana, eu demorava um mês para voltar a primeira família visitada.
Eu também tinha vários grupos de amigos (pelo menos 4 diferentes). O raciocínio é o mesmo. E tinha não, ainda tenho – só não os vejo com tamanha frequência.
No final de semana eu ainda tinha que:
- Ir ao supermercado e resolver outras atividades pontuais
- Limpar a casa
- Dormir (eu adoro dormir….)
Isso sem contar os finais de semana que eu levava trabalho pra casa; e aqueles que eu precisava estudar.
Então eu te pergunto: qual a hora do final de semana eu tinha pra mim?? Pra ficar de boa, sem fazer nada, ler um livro enquanto meu marido joga vídeo game?
É isso que a Síndrome do Sufoco Social me causava… Eu não tinha essa hora… Muito pelo contrário…
A agenda do final de semana era tão turbulenta quanto da semana… Normalmente eu tinha que ir embora rápido do almoço de sábado para dar tempo de descansar e se arrumar para a compromisso da noite.
Ah, e não estou contando os aniversários hein… Eu era muito próxima de mais ou menos 50 pessoas – esse é o tamanho da lista de convidados próximos para o meu aniversário! Se os aniversários se distribuíssem igualmente ao longo do ano poderia dizer que era um aniversário por semana!
O que na prática se aplica, algumas semanas com dois ou três aniversários para ir; e outras sem nenhum.
CONSEQUÊNCIAS DA SSS
A primeira consequência é o fato de estar presente em um lugar, querendo estar em outro (minha casa).
É difícil assumir o gosto por ficar em casa, ainda mais quando temos tantas pessoas que amamos ao nosso redor. Não é questão de não gostar de ficar com elas, muito pelo contrário, eu amo ficar perto das pessoas que gosto. É apenas questão de ter o seu tempo e o seu canto. É um trade-off.
Até porque, em cada “sufoco social” que eu entrava, eu já sabia de trás pra frente quais seriam os assuntos discutidos… Você já parou para pensar que, quando convivemos muito intensamente com uma pessoa, falamos sempre dos mesmos assuntos??
E daí vem a consequência pior da SSS: a insuficiência…. Porque não importava com qual das famílias / amigos eu passasse a virada do ano, eu estava deixando de passar com todos os outros.
Não importava com qual deles eu estava na noite de Natal, eu era questionada porque eu não iria comparecer no almoço da ceia.
Não importava quanto eu abdicava do meu tempo no final de semana para estar com eles, eles ficavam chateados porque sábado que vem eu não estaria novamente…
Na prática, não importava o quanto eu estava abrindo mão do meu tempo de ficar comigo mesma para ficar com os outros – nunca era o suficiente.
Essa é a Síndrome do Sufoco Social que eu vivi por muitos e muitos anos da minha vida e que eu vejo dezenas de outras pessoas vivendo também.
COMO EU ME CUREI DA SSS?
Simples, eu me mudei para bem longe… no caso, para Floripa.
Mais do que morar em uma cidade linda, com uma qualidade de vida sem tamanho, eu não imaginava que encontraria aqui a cura da minha Síndrome.
Quando eu cheguei aqui eu não pensava que o “Sufoco Social” ia me dar tanta saudade… Eu não imaginava quão difíceis seriam os sábados e os domingos sem tanto compromisso na agenda – afinal de contas, eu nem sabia mais viver sem agenda lotada no final de semana.
Eu sofri, e não foi pouco. Eu pensei mais de uma vez em voltar pra casa.
No começo, eu sofria a cada foto do facebook que eu via dos meus amigos reunidos e eu não estava presente. Eu sofria a cada ligação por skype com a minha família, sentindo estar ausente. Eu falei bastante sobre isso num post passado, veja aqui.
E sabe como esse sofrimento e essa saudade foi embora?
Quando eu comecei a voltar para Americana… E, no começo eu fazia isso em uma frequência maior, 1 vez a cada 2 meses, mais ou menos.
Advinha o que acontecia quando eu voltava?? A SSS atacava novamente…
Em um dia eu visitava 3 ou 4 famílias diferentes (afinal de contas agora eu só tinha o final de semana para fazer tudo isso)! Era uma correria doida… E daí eu me lembrava da paz que eu sentia quando estava na minha casa, em Floripa, fazendo o que eu bem entendesse.
Seja indo pra praia… levando a Paçoca (minha cachorrinha) para passear. Dormindo… Indo ao cinema. Não importa o que eu estivesse fazendo com meus finais de semana em Floripa, eles eram meus, só meus!
Já fazem 2 anos e meio que moro longe da minha cidade natal e, hoje, eu me sinto completamente livre da Síndrome do Sufoco Social.
Hoje eu sinto prazer de voltar pra casa, rever meus amigos e minha família. Abraçar cada um deles, conversar com eles.
Cada visita é intensa, porque é curta. Cada conversa é profunda, porque a próxima ocorrerá somente daqui alguns meses.
Eu não fico mais olhando o celular quando estou com eles – eu quero aproveitar cada segundo que eu tenho de companhia.
E também não me sinto sozinha em casa pois, além de eu já ter um novo círculo social em Floripa, eu me comunico com frequência com o círculo que eu tinha em Americana (viva o whats app!).
Me livrar da SSS foi um dos principais benefícios de eu ter me mudado – e uma das principais razões pela qual eu não pretendo voltar, pelo menos no curto prazo, a morar em Americana.
Sabe o que é mais interessante de tudo isso?
É que tem gente que gosta do sufoco social, não sabe viver sem ele – e está tudo bem, eu apenas não sou, definitivamente, esse tipo de pessoa.
Tem gente que odeia o sufoco social e faz de tudo para se livrar dele.
E tem gente que sequer sabe que sofre dessa síndrome e talvez por isso ainda não esteja bem consigo mesmo.
Qual dessas pessoas você é?