Tempo de leitura: 18 minutos
AQUI ESTÁ O RELATO DO NOSSO PARTO DOMICILIAR PLANEJADO
Muito bem, chegou a hora de colocar no papel tudo que vivi alguns dias atrás do parto do Rafael.
Esse post é uma sequencia de vários outros, veja só…
Aqui, vou relatar nos mínimos detalhes (que eu lembro), tudo que aconteceu no dia 03 de outubro de 2020, dia que meu pequeno decidiu vir ao mundo.
A data não foi assim tão planejada quanto no parto da Naty (veja aqui), mas claro que foi bem vinda!
Uns dias antes de ele nascer, eu havia pedido ao meu anjinho um sinal sobre o parto. O sinal que veio foi: chuva. Dito e feito!
4h30 DA MADRUGADA
Começou um temporal, mais um daquela semana cheia deles.
Ventos, relâmpagos e trovões fizeram a casa toda acordar e, como de costume, fui deitar na cama da Naty com ela, para tentar fazer ela dormir novamente.
Ela pediu uma banana, depois outra, e estava me enrolando para voltar a dormir.
Por volta das 5h da manhã eu senti um pouco de líquido escorrer, imaginei que poderia ter sido a bolsa rompida, mas ainda não tinha certeza.
Algumas pequenas cólicas me acompanhavam, mas minha meta maior era fica com ela ali quietinha para ver se ela voltava a dormir.
Mas entre uma mexida e outra na cama, mas um pouco de líquido escorreu e eu tive certeza que a bolsa havia rompido.
Ainda assim, segurei a emoção e tentei ficar lá quietinha – sabia que seria importante para nós que ela dormisse novamente.
Mas na prática parece que ela estava sentindo, e não queria voltar a dormir.
Passava das 5h30 e eu comecei a ficar angustiada, precisava ter certeza que a bolsa havia estourado, e não estava mesmo conseguindo fazer ela dormir…
Então chamei o Joy (meu marido), dei bom dia e o avisei que a bolsa havia estourado.
Me enrolei no edredom dela e fui ao banheiro. Era certeza, a bolsa havia rompido.
Coloquei a fralda e voltei para a cama dela.
Disse: “Naty, hoje é o dia da festa que o Rafa vai nascer. Vamos fazer uma festa para você e para ele, o que você acha?”.
De cara ela já disse que não queria festa… Mas ficou alegre que o irmão nasceria.
Então de lá mesmo liguei para uma das minhas parteiras, que me orientou levar a vida normal até esperar o trabalho de parto se iniciar.
Também liguei para uma de minhas doulas e assim começou o dia.
6h DA MANHÃ
Já estávamos todos em pé tomando café da manhã, e esperando para ver como seria o dia.
A Naty se entretendo, brincando como ela faz todo dia em casa.
Todos já estavam avisados, inclusive a vovó.
Agora a missão era esperar, mais nada…
Por volta das 7h30 da manhã a vovó Valeria chega em casa, toda linda e produzida para a festa de nascimento do Rafa.
De banho tomado, maquiada, contrastando com meu clima de pijama…
O dia havia chegado e estávamos todos muito felizes!
Mas ainda não sabíamos a hora que tudo aconteceria, e sim, estávamos ansiosos!
Com um pouquinho de tempo da vovó em casa, a Naty implicou que queria ir para a casa da vovó.
Nós já havíamos combinado e conversado com ela que ela poderia escolher participar da festa ou não.
E em todos os momentos que conversamos com os profissionais sobre a participação da irmã mais velha no parto, o discurso era unanime: fica tranquila que as crianças sabem como lidar com isso.
E, nesse momento, ela queria sair de casa.
Tentamos questionar, explicar, pedir para ela ficar em casa…
Mas estava irredutível, queria porque queria ir para a casa da vovó.
Então, seguindo a intuição dela, pedi a minha mãe que a levasse embora.
Foi definitivamente a hora mais triste do dia.
Todos ficaram abalados.
- Minha mãe por ter que ir embora, e saber que poderia perder o momento do nascimento;
- Eu por ter decretado que ela poderia ir embora;
- A casa ficou vazia sem a alegria dela correndo e brincando para todos os lados…
Bateu aquele vazio e… E agora, o que vamos fazer nessa espera que ficou mais triste sem nossa primogênita?!
9h DA MANHÃ
O tédio não poderia bater nessa hora, ainda estávamos aguardando qualquer sinal e, na prática, não havia nada.
Nenhuma dor, nenhum desconforto, nenhuma contração, nenhum líquido escorrendo.
Parecia um dia normal, mas definitivamente não era um dia normal.
Então resolvemos cozinhar para ver se o tempo passava.
Já seria a rotina do nosso dia mesmo, nossa geladeira estava cheia de ingredientes e vazia de comida pronta.
Então fomos para a cozinha: eu mais moderada, fazendo o que poderia fazer sentada, e o Joy com mais mão na massa.
O cardápio era: arroz, feijão, abóbora recheada com palmito e carne de siri.
Entre preparar a comida, sentar um pouquinho para repousar, esperar algum sinal que não vinha, começamos a ficar agitados e ansiosos.
Então ligamos para a parteira para entender como seria essa espera, que já sabia que poderia durar até 48h após o rompimento da bolsa.
Combinamos que permaneceríamos em uma espera passiva até às 16h, quando então, se nada acontecesse, começaríamos a tentar algum tipo de intervenção natural para acelerar o trabalho de parto.
Por volta das 11h30 o almoço ficou pronto e nós comemos.
No fim foi uma ótima ideia cozinhar, e a Naty ter ido para a vovó! Nos distraímos e ainda deixamos comida pronta!
MEIO DIA
Tudo estava preparado e a espera continuava.
Tendo acordado às 4h30 da manhã, eu já estava cansada, então resolvi me deitar um pouco. O Joy fez o mesmo.
Dormi super pesado até às 13h, quando resolvi me virar na cama.
Nesse momento, a bolsa literalmente explodiu (literalmente mesmo, veja como foi meu pós-parto!).
Achei que tinha ensopado a cama, mas a fralda era realmente resistente.
Me levantei, fui ao banheiro, estava tudo normal. Ainda nenhum sinal de nada…
Voltei para a cama para tentar dormir de novo, mas daí já foi um pouco mais difícil.
Liguei uma playlist qualquer e fiquei ouvindo música e relaxando.
Até que veio a primeira contração.
13h45 – A PRIMEIRA CONTRAÇÃO
Veio de leve, de forma bem suportável, pegando minhas pernas.
Já não era mais aquela contração de treinamento que deixava a barriga dura e que eu estava acostumada a sentir nos últimos dias.
Eu estava ali quietinha na cama, ouvindo uma musiquinha, mas senti o chamado.
Pensei comigo: agora vai ser rápido!
Tive vontade de ligar para toda a equipe e pedir que viessem correndo – e devia ter seguido meus instintos…
Mas na prática fiquei ali, imóvel, esperando mais sinais.
Afinal de contas, as contrações precisavam ritmar para ser considerado trabalho de parto ativo, e eu estava apenas na primeira…
Logo veio a segunda, a terceira…
Com a quarta contração olhei novamente no relógio: 14h05 – 4 contrações em 20 minutos.
Bem, achei que agora era a hora e começar a avisar o povo.
Liguei para minha doula que mora mais longe e pedi a ela para vir vindo.
Avisei nos grupos que as contrações tinham começado.
Liguei para minha parteira que me orientou a medir o tempo entre as contrações.
Essa porém não estava sendo uma tarefa muito fácil… As contrações vinham nas pernas, não eram bem definidas.
Precisava me concentrar muito para entender quando elas vinham e iam, e estava agitada.
Então decidi que tomaria um banho.
Levantei devagar e mais um banho de líquido amniótico – reflexo da explosão da bolsa de uma hora atrás.
Devagar fui até o banheiro, o Joy acordou, foi lá comigo…
Eu já tinha vontade de fazer número 2 (ou seja, já estava entrando no expulsivo), porém as contrações ainda estavam leves e bem suportáveis.
Até que eu me decidisse entre sair do vaso e entrar no banho foram alguns minutos ali de papo no banheiro.
14h30 – ENTREI NO BANHO
E dei de missão para o Joy medir as contrações.
Agora eu estava em pé, então estava mais fácil de entender quando elas vinham e iam…
Entre uma e outra passei shampoo, condicionador, tomei banho normalmente.
Depois de 10 minutos medindo as contrações, o veredicto: 5 contrações em 10 minutos.
Já era trabalho de parto super ativo.
Marido convocou todo mundo, agora era uma questão de poucos minutos – e eu sabia bem disso.
Já estava com vontade de fazer força desde que cheguei no banheiro, então era realmente questão de poucos minutos até o Rafael chegar.
Mas sim, o marido estava um tanto apavorado com a possibilidade do bebê nascer sem ninguém ter chegado.
Então eu ignorei a vontade de fazer força e fiquei só sentindo as contrações.
Ainda no banho, sabia que o momento de sair da água quentinha seria crucial.
A friagem certamente fariam as contrações aumentarem então eu estava ali, procrastinando a saída do banho.
Até que tomei coragem, desliguei o chuveiro e dito e feito…
Ainda me enxugando entrei na partolândia…
15h10 – A PARTOLÂNDIA
Se lavar o cabelo foi fácil, me enxugar e passar meu creme de cabelo não foi uma missão tão simples assim…
Sempre entre uma contração e outra, naquela dificuldade de ficar de pé e me locomover.
Elas vinham com força e intensidade, era só mais um pouquinho e meu bebê estaria comigo.
E ninguém ainda havia chegado em casa…
Até que toca o telefone e a primeira pessoa chegou: a fotógrafa.
O comentário ainda foi: “ela não vai ajudar muito”… Mas eu estava bem feliz porque ela estaria registrando tudo!
Enquanto o Joy desceu para buscá-la eu me sentei no puff da sala e passei alguns minutos tentando colocar o biquíni…
Mais uns minutos e eu decidi me deitar um pouco, na tentativa de tornar as contrações menos intensas e segurar um pouquinho mais o nascimento.
Mas foi em vão… 2 contrações deitadas e a dor era mais insuportável do que qualquer outra posição.
O telefone tocou de novo, era uma das minhas doulas.
Aí fiquei tranquila e comecei a agir.
Me derrubei do sofá, ficando na posição de quatro apoiada com os braços no sofá.
Alyssa chegou e eu só dizia: “ele está aqui, já vai nascer”.
Ela, com toda calma, me dizia: “sim, ele está vindo”.
Mas eu tinha certeza que ele não estava só vindo, ele já estava ali. Eu sentia.
Então ela tentou tirar a fralda mas eu não conseguia me levantar. Ela cortou a fralda.
Eu já estava fazendo força total, sentindo aquela ardência do círculo de fogo.
Sabia que era questão de mais algumas contrações.
Enfiei minha cabeça embaixo da almofada e estava sentindo tudo ali do meu jeito, na minha intensidade.
O telefone tocou novamente: era a parteira, e o Joy desceu para buscá-la.
Nessa altura do campeonato eu não estava mais preocupada em esperar ninguém. Só queria que o Rafael chegasse.
E sabia que estava perto, e o Joy não voltava nunca de lá de baixo.
Coloquei a mão lá embaixo e senti a cabecinha e o cabelinho.
Ai meu Deus, eles precisavam subir logo!
Assim que chegaram eu vi entrando em casa o banquinho do cócoras e aquilo me fez cair a ficha: precisava mudar de posição.
Ali de quatro já tinham vindo 4-6 contrações e eu não estava conseguindo parir. Cócoras seria o ideal.
Pedi o banquinho e me sentei.
Mal deu tempo da parteira chegar. Ela se aproximou de mim e, na contração seguinte, a cabecinha saiu.
Joy estava ao meu lado, no sofá.
A parteira na minha frente e eu dizia: “não deixa ele cair no chão”.
Do outro lado a doula.
E a fotógrafa mais de longe, registrando tudo (para minha tranquilidade!).
Sim, a cabecinha havia saído! Veio aquele alívio e aquela respiração que na última meia hora eu não havia conseguido ter.
Foi um nascimento em duas partes – como havíamos tanto treinado nas aulas de Yoga.
Ele deve ter ficado uns dois minutos com a cabecinha para fora, enquanto eu respirava, me alegrava e esperava a próxima contração.
Até que a próxima chegou e o Rafael escorregou!
A parteira o pegou e imediatamente colocou ele no chão.
Estava todo roxinho, com o cordão envolto no pescoço. Não estava enrolado propriamente dito, estava como quando penduramos um chale, só transpassado.
Então ela o desenrolou do cordão e o colocou no meu colo.
Ufa, o Rafael havia nascido.
Até agora não sabemos exatamente que horas eram mas, pelos registros das ligações e das fotos, chegamos a conclusão de que eram 15h45.
Meu bebezinho estava em meus braços, na sala da minha casa, em um parto rápido e pouco dolorido como eu havia sonhado.
16H – NASCIMENTO DA PLACENTA
Chegou a nossa “hora dourada”.
Com ajuda de todos nos locomovemos até o quarto onde me sentei na cama, segurando o Rafael, ainda ligado pelo cordão dentro de mim.
Não vou mentir: essa era a hora que eu queria estar feliz, sorrindo e curtindo meu filho.
Não que não tenha feito isso, mas ainda sentia um desconforto muito grande. Cólicas intensas não me deixavam sossegada.
O Joy sentou ao meu lado, ficamos ali curtindo nosso pequeno.
O quarto ficou vazio – apenas a fotógrafa ali, ficamos admirando suas dobrinhas, sua corzinha meio roxa…
E doía, doía muito ainda.
A segunda parteira chegou e me orientou a tentar fazer o nascimento da placenta.
Então o Joy segurou o Rafa, eu me posicionei novamente e na próxima contração, lá veio a placenta – que não saiu de uma vez, ficou uma parte ainda presa e teve que ser retirada pela parteira com auxílio de uma pinça.
Agora o bebê conseguia se mover, levando a placenta de um lado para o outro.
Mas eu ainda sentia dores fortes e, na prática, estava me sentindo bem nojenta cheia de sangue e mecônio – sim, nos primeiros minutos já ganhei um chafariz e uns cocôs no colo!
OS PROCEDIMENTOS
Ouvi meu carro entrando na garagem – a Naty estava chegando com minha mãe.
Ah, detalhe, lembra que as crianças sabem exatamente o que fazer na hora do parto, certo?!
Pois bem, ela dormiu exatamente 13h45, quando veio a primeira contração, e acordou exatamente 15h45, quando ele nasceu. Ela queria estar dormindo e protegendo-o nessa hora.
Então eu me apressei para entrar no banho – queria receber ela menos suja do trabalho de parto.
Mas a pressa não era desejada nesse momento… Tinha que fazer tudo devagar, não me deixavam levantar rápido pois corria o risco de cair a pressão e desmaiar.
Não sei exatamente em que momento chegou também a minha segunda doula.
Ela que foi comigo para o banho.
Mais uma vez, me orientaram para sentar caso eu tivesse tontura. Não estava me sentindo fraca, só estava com cólica (ainda).
Parecia que o parto não tinha terminado.
Estava ansiosa pelo momento que me sentiria bem, mas esse momento ainda não havia chegado.
Joguei água pelo corpo, me limpei e já queria sair do banho…
A Laura me enxugou de forma muito amorosa e me deu um abraço daqueles inesquecíveis, que vou guardar na memória pelo resto da vida!
Um abraço de quem diz: está tudo bem sentir dor ainda, você acabou de Dar à Luz.
Um abraço de acolhimento que me fez aceitar um pouco mais a dor.
Voltei para o quarto e estavam todos lá: papai, bebê, irmã mais velha, vovó! Todo mundo babando no nosso novo membro da família!
Me juntei à festa, porém não estava em clima de festa… Queria que tudo acabasse logo.
Sim, eu fiquei impressionada em quão chata eu fiquei nesse finalmente.
Eu queria curtir, viver esse momento. Mas as cólicas não me deixavam relaxar.
Então de forma até relativamente apressada, foram feitos os procedimentos.
- Tiramos a foto do bebê com a placenta;
- O Joy cortou o cordão umbilical;
- Medimos e pesamos o Rafael.
E, para nossa surpresa, estávamos diante de um bebezão!
51,5 cm e 4,275 Kg!
Estava tudo bem!
A parteira me mostrou a placenta, ainda brincou que ele realmente tinha rasgado a bolsa com gosto – não era só um “furinho”, era um rombo!
As doulas levaram a placenta, fizeram uma tintura com ela no papel.
Depois a Laura ficou no quarto pintando a placenta do jeito que eu havia pedido, com a participação de todos que estavam no parto – inclusive a Paçoca.
A Naty teve um momento doce e maravilhoso com o irmão! Pegou ele no colo, conversou com ele.
Ter toda a família ali na cama, interagindo com o bebezinho, foi algo mágico e indescritível.
Tudo que sonhamos para nosso parto domiciliar!
E aos poucos a equipe foi indo embora…
Primeiro as parteiras se despediram…
O Joy recebeu várias instruções do que ficou ali na cozinha para nós, preparado com muito amor pelas doulas!
Havia um chá para aliviar o períneo;
E uma sopa maravilhosa, a qual também não me esquecerei tão cedo.
Muito menos ter ganhado sopinha na boca ainda na recuperação na cama.
Logo a fotógrafa também foi embora… Ah, não sem antes colher um relato meu!
Vamos ver qual era minha cara de acabada quando contei toda essa minha versão da história…
Ficaram as doulas.
Eu queria que elas ficassem mais, ficassem para a janta. Já estava anoitecendo…
Mas o desconforto que eu sentia era tão grande que só conseguia pensar em descansar.
Então elas também se despediram e foram embora.
E eu fiquei ali quietinha, e logo as cólicas que eu sentia foram indo embora também.
Por volta das 20h estava me sentindo mais disposta – e então fui para a sala, onde tomei mais sopa deliciosa e curti a família.
Essa era a hora que eu queria que a festa ainda estivesse acontecendo, mas paciência, a maior parte dos convidados já haviam ido embora.
O parto foi lindo e rápido como eu queria. A recuperação imediata dele me derrubou, muito mais do que eu queria.
As cólicas sem fim me deixaram de mal humor e embora tudo tenha sido feito de forma muito humana e deliciosa, no aconchego do meu lar, eu não consegui curtir tudo aquilo com a presença que queria estar.
Mas meu coração ficou tranquilo pois sei que o restante da família curtiu – meu marido, minha mãe e minha filha.
A festa estava acabando e o coração cheio de alegria e gratidão pelo dia lindo que tivemos!
A espera acabou, o Rafael chegou!
E foi só o começo…